Finalmente, o Brasil vem recebendo nomes
importantes da história do Hard Rock mundial. No ano passado, os vocalistas
Johnny Gioeli (Hardline, Axel Rudi Pell) e Danny Vaughn (Waysted, Tyketto)
fizeram shows excelentes para os apreciadores do estilo que se quer, ou jamais,
imaginavam que um dia eles pudessem estar por aqui. Neste mês de março, a
capital de São Paulo recebeu Crazzy Lixx, Pretty Boy Floy e Stevie Rachelle (vocalista
do Tüff) no GlamMetal Fest. E para ficar ainda melhor, os paulistanos também
tiveram a honra de receber os ingleses do FM.
Comemorando 40 anos de carreira, a banda teve uma
rápida ascensão na década de 80 com os discos “Indiscreet” (1986) e “Tough It
Out” (1989), trabalhos que até hoje são reverenciados pelos fãs do Melodic Rock
e AOR. Fora o ótimo resultado que obtiveram neles, também deram suporte aos
shows de grandes lendas como Bon Jovi, Foreigner, Status Quo, Gary Moore e
entre outros. Na década seguinte, lançaram “Takin’ It to the Streets” (1991) e “Aphrodisiac”
(1992), que não teve o mesmo alcance dos dois primeiros, fazendo com que as
atividades fossem encerradas em 1995.
Mas eis que, em 2007, o quinteto recebe um convite
para um único show, em Nottingham (ING). E o que era para ficar só nisso,
acabou resultando na volta definitiva da banda, que até hoje continua fazendo
shows e lançando ótimos trabalhos através da Frontiers Records. Da formação original,
só estão o vocalista (e também guitarrista) Steve Overland, o baixista Merv
Goldsworthy e o baterista Pete Jupp (antigos membros do Samson) – o guitarrista
Jim Kirkpatrick (assumindo o posto que já foi de Chris Overland e Andy Barnett)
e o tecladista Jem Davis completam o atual time.
A turnê também passou por outras cidades da América
Latina (Buenos Aires, Lima e Bogotá), com pontapé em São Paulo, que não só
recebeu o público local, como também de outro estado (Curitiba,
especificamente) numa quarta-feira para lá de quente e com uma rápida chuva
antes da abertura das portas, que foram abertas antes do horário previsto. Mas a
maioria só foi comparecer mesmo em peso no Manifesto Bar (local da
apresentação) faltando uma hora para o início, o que era de se esperar pela
quantidade de ingressos que foram vendidos.
Depois de apenas dois minutos de atraso (se é que
podemos considerar um atraso), cada um dos membros desceu para o palco para
ocupar os seus postos para o delírio de todos, que elevou ainda quando
executaram a primeira trinca – intervinda da clássica introdução da 20th
Century Fox Theme e de uma voz mecânica apresentando a banda – com
“Synchronized", “Tough it Out” (primeiro clássico da noite) e a melódica
“Killed By Love”. Antes de tudo isso, Pete registrou toda reação da galera na
câmera do seu celular para guardar de lembrança.
Todos que estavam presentes tinham as músicas na
ponta da língua, chegando até ser emocionante ver a vibração e alegria da
maioria que estava vendo a banda pela primeira vez ao vivo em um espaço
intimista que é o Manifesto, deixando o público bem próximo da banda. Essa
energia motivou Steve – principalmente – e seus demais companheiros a terem
mais vontade de entregar um excelente show. E o tempo fez muito bem para cada
um deles, que continuam em plena forma. Merv, por exemplo, deu um show a parte com uma baita presença de palco.
O setlist conteve oito músicas do “Tough it Out”
(1989), o que é mais do que justo, pois se trata do melhor trabalho da carreira
e que soou ainda melhor ao vivo, e sequência desta ‘obra-prima’ veio em “Someday
(You’ll Come Running)” – que teve as primeiras palavras do Steve: ‘Nós
esperamos 40 anos para tocar para vocês e vocês não nos abandonaram –, “Let Love be the Leader” (primeira do “Indiscreet”) e antecipada
por ‘Oh, Oh, Oh’ vindo da plateia antes de anunciá-la – e “Everytime I Think Of
You”, que teve como destaque as ondas de fumaça enquanto a banda executava.
O repertório também teve espaço para uma música
nova, “Out of The Blue”, que estará no novo álbum, “Old Habits Die Hard”, a ser
lançado em maio. Steve fez questão de perguntar quem já ouviu, e poucos
acabaram levantando a mão; “The Dream that Died” e Don’t Stop (com Steve
executando o solo com extrema segurança) equilibrou bem o nível de
tranquilidade com uma balada e um Hard Rock com refrão chicletoso.
Após perguntar se todos estavam se divertindo,
Steve revelou que a próxima música é bem antiga e que foi composta em parceria
com o seu irmão, “American Girl”, a qual o videoclipe é uma homenagem a saudosa
atriz do cinema Marilyn Monroe. A rápida levada de bateria de Pete (chimbal,
caixa e bumbo) indicava o início de “Frozen Heart”, outra que foi bastante
celebrada e com o público cantando uma parte dela à vontade. “Does It Fell Like
Love?”, outra do “Touch It Out” (1989), teve seu final estendido com um solo
vocal maravilhoso. Jim e Merv subiram em cima das caixas que ficam na lateral
do palco para imprimir as últimas notas nos minutos finais dela.
Os clássicos foram reservados faltando pouco para o
final. Sob gritos de ‘FM, FM’, os berros não foram hesitados nas emblemáticas
“That Girl”, “Bad Luck” e “I Belong to the Night”, essa encerrada com um solo
bem ala John Boham do Pete. A primeira citada foi regravada pelo Iron Maiden –
presente na coletânea Best of the ‘B’ Sides” – já a segunda foi composta por
ninguém menos que Desmond Child. Qualquer semelhança de “Give Love a Bad Name”,
do Bon Jovi e também de autoria do Desmond, é mera coincidência. “Turn This Car
Around”, do mais recente álbum, “Thirteen”, completou a primeira parte do set
antes do breve bis.
Enquanto Steve, Jim e Merv tomavam fôlego no
camarim, Jim ficou no palco mandando lindas melodias e preparando terreno para
o momento mais calmo da noite (só com teclado e voz) em “Story Of My Life”, que
teve como destaque a brilhante performance vocal de Steve Overland, que no auge
dos seus 63 anos, continua com a voz impecável, tanto que, ao final, foi
ovacionado pelos seus apreciadores fãs. A dobradinha de “Face to Face” e “Other
Side of Midnight” encerram o show de forma apoteótica.
Muitos elogios e aplausos foram atribuídos depois
do encerramento, que poderia ser muito mais que isso. Por tudo que entregaram, em
todos os quesitos, mereciam agradecimento de joelhos, mas os gestos prestados
estão de ótimo tamanho para um dos melhores de Hard Rock em terra brasileira
neste ano. Para quem ficou com um gosto de “quero mais”, a banda prometeu,
durante o show, que voltam num futuro breve. Assim esperamos!
Como eu tive minha adolescência na década de noventa, poder ouvir este álbum da banda GRIMM me acionou vários gatilhos positivos. Bandas como Nirvana e Alice in Chains fizeram parte da minha escola musical e, apesar do Grunge ter sido uma tendência passageira, confesso que eu sempre gostei daquela crueza, composições simples e estilo de vida bem despojado. Verdade, eu estava sentindo falta de ouvir algo assim!
Como já mencionado, aqui não temos surpresas e as músicas são bem simples, mesmo. Talvez, alguns não gostem tanto das pitadas de Stoner que algumas faixas possuem, mas eu adorei a ideia desta mescla, até para fugir do que seria o cem por cento do convencional a ser feito. Então, o trabalho acabou ganhando um peso extra, deixando músicas como “Please Stand By” e “Still I Curse” mais atrativas para o fã que gosta de música que desce a mão, sem dó!
Eu gostei da produção, mas acredito que dê para melhorar muito em próximos trabalhos. Talvez enviando para a pós produção ser assinada por um produtor que entenda do Grunge. Se for desta forma, eu sinceramente vejo um futuro muito promissor para a GRIMM, pois com este primeiro passo, soube ser inventiva dentro de um estilo que, já é mais tão popular assim nos dias de hoje. Veremos o que o futuro reserva para estes caras.
Agora com uma grande distribuidora ao seu lado, a GRIMM está conseguindo ter a visibilidade que era necessária. Eu mesmo não tinha ouvido falar destes caras, antes da sua parceria com o pessoal da MS Metal. Que ótimo que o caminho de profissionalização está garantido para estes rapazes e, quem sabe, para um próximo álbum, a distribuição chegue no mercado internacional! Eu acho que a GRIMM está pronta para despontar, e você?!
Fundada em 2019, a HEADSPAWN, power-trio de João
Pessoa (PB), vem colhendo os frutos que plantaram durante a pandemia através do
seu álbum de estreia, “Parasites”, que vem recebendo boas críticas e elogios.
Para falar sobre esse momento, o baixista João
Paulo Cordeiro e o vocalista e guitarrista Alf Cantalice contam como surgiu a
ideia de montar a banda, os trabalhos durante o período pandêmico, influências
e entre outras coisas envolvendo o mais recente trabalho.
Muito antes da criação da HEADSPAWN, vocês já
compunham música própria e tiveram a experiência de ter tocado em bandas de som
próprio e covers. Conte-nos um pouco como foi esse processo.
JP: Como já tivemos experiência com bandas autorais em
outras épocas, mesmo estando em bandas covers, a gente tinha essa necessidade
de estar voltando a compor e voltar a trabalhar com as músicas que nós mesmo
fizemos. E antes da HEADSPAWN, eu tocava numa banda cover junto com o Alfredo,
a gente conversava muito sobre isso, e decidimos: ‘Cara, o momento de fazer
isso é agora! Quanto antes fizer melhor’. E a partir daí nos juntamos para
começar a compor.
Alfredo: Foi preciso utilizar uma dinâmica massa de criar
depois que conversamos sobre fazer música própria, e acabou que, por inúmeros
motivos, que JP e eu continuamos com essa ideia. Eu acho que o maior norte que
temos para fazer (e criar) música é exatamente com o intuito de deixar um
legado, de deixar a ideia da gente registrada, de deixar a nossa visão de música
registrada e de deixar tudo legal. É tudo aprendizado, não perdemos nada! E
quando chegou a HEDSPAWN, trouxemos uma bagagem muito interessante, e isso faz
parte da sonoridade da banda.
A banda surgiu um ano antes da pandemia, que
impediram não só vocês como muitos artistas e bandas a estarem tocando ao vivo
durante esse período. Mas também foi a chance de ter trabalhado melhor nas
músicas que estavam compondo. Qual foi o aprendizado que tiveram nesse tempo?
JP: Eu acho que a pandemia trouxe um outro tipo de
experiência para gente, sabe? Primeiro começamos a gravar o nosso EP, “Pretty
Ugly People”, e tivemos que pausar por motivos óbvios. E como ficamos um tempo
parado em casa, usamos a pandemia ao nosso favor para compor o primeiro álbum.
Não só nós usamos a pandemia para gravar, compor álbum, trabalhar em músicas
novas e material novo, como também muitos artistas e bandas. E não foi
diferente com nós. Também usamos a pandemia (o final dela) para se preparar bem
para os primeiros shows, passamos meses ensaiando praticamente.
Eu acredito
que, se não fosse a pandemia, provavelmente estaríamos correndo e não ensaiando
o suficiente. E quando voltamos dela, voltamos fazendo show com um repertório
só de músicas novas. O tempo que a pandemia nos deu para fazer isso foi de
aprendizado, porque aprendemos que, para fazer qualquer tipo de trabalho dessa
magnitude, precisa de um tempo de preparação, então a pandemia nos forjou a
entender isso.
Alfredo: O JP falou meses, mas parando para pensar, foram
dois anos de ensaio (risos). O fato de se apresentar para o público pela
primeira vez tocando uma porrada de música inédita foi uma experiência muito
massa, porque era o público da nossa cidade que nos conhecia, conhecia nosso
trabalho e que já tinha ouvido o nosso EP. E eles não sabiam o que iam ouvir na
nossa primeira apresentação, então foi muito especial a reação da galera.
Eu
falo por mim que, naquele momento, tinha uma coisa muito especial entre o nosso
público e a gente. Tudo o que aconteceu com a gente tem sido a primeira vez
para mim, rompendo barreiras até no âmbito particular. Eu me sinto muito
desafiado em fazer essas coisas, mas eu me sinto muito feliz com o resultado
que a gente vê, sem dúvida.
Antes do “Parasite”, vocês lançaram o EP de
estreia, “Pretty Ungly People”, e tanto nele quanto o primeiro álbum percebemos
a identidade que a banda busca, que é agressividade, melodia e versatilidade,
além de influências como Slipknot, Machine Head e Alice In Chains. Essas
referências acabam vindo naturalmente ou de forma intencional na hora de
compor?
Alfredo: Nada intencional. Não fazemos nada com premeditação
do tipo: ‘Ah, isso tem que soar como tal coisa’, mas é inevitável que o ponto
de partida seja alguma coisa que você conheça. Eu acho que não tem como reinventar
a roda, de você pegar uma coisa que já existe na sua mente, você já pensou
muito sobre ela e ela acaba sendo o seu ponto de partida.
Mas tudo é muito
natural. Eu, por exemplo, não sou fã assíduo do System Of a Down, mas já ouvi
várias vezes (várias vezes mesmo) comparações do tipo: ‘Cara, vocês me lembram
muito o System Of a Down’. Eu não consigo ouvir System Of a Down e entender o
que o pessoal vê tanto de System Of a Down no nosso som, mas é só para algumas
pessoas.
Outras pessoas veem Machine Head e digo: ‘Caralho, você vê Machine
Head no som?’. Eu consigo entender bastante quando um cara diz que tem
Sepultura, Slipknot, Korn, Pantera; eu consigo perceber o Alice In Chains e
alguma coisa do Soundgarden aqui e ali... Essas coisas passaram pela minha
cabeça em determinado momento da produção das músicas, então quando alguém vem
e repete essas bandas que citei eu digo: ‘Sim, eu entendo e saco isso’.
A música me lembra muito a comida, a comida tem um
sabor para uma pessoa e para outra tem um sabor completamente diferente. Por
exemplo, o cara come uma coisa e diz: ‘Pô, isso parece amendoim’, o outro
experimenta e fala: ‘Que amendoim, isso aqui parece manteiga’ (risos). Manteiga
e amendoim são coisas completamente diferentes, mas para cada pessoa causa uma
sensação diferente.
JP: Muita coisa que você falou de influências ouvíamos
a vida inteira, escutamos essas bandas desde de criança, adolescência e
crescemos ouvindo elas e mais algumas derivadas. E é impossível começar a
compor e não sair algo ou outro não é porque a gente quer, é porque é o que
gostamos de ouvir, então é normal acabar vindo uma coisa ou outra das bandas
que foram mencionadas. Se a gente fosse fazer algo proposital e que saísse de
alguma banda, ia ficar muito mecânico e não natural. Resumindo, ia ficar uma
merda! Não ia funcionar muito bem (risos).
Falando sobre a questão do estilo, a banda navega
por um som calcado no Groove Metal. Nos dias atuais, vemos poucas bandas que
buscam essa roupagem no som. O que os motivaram a estar apostando num estilo
que vem sendo pouco lembrado?
JP: É praticamente a mesma resposta que eu vou dar
referente às composições. Quando eu e o Alfredo se juntamos para compor não
sabíamos bem o que íamos fazer, só queríamos compor e ver o que ia sair entre
eu e ele, e o que saiu foi esse som. O que você ouviu no “Pretty Ugly People”
foi o que começou a sair. Não pensamos tipo: ‘Vamos fazer isso aqui? Vamos
aumentar o volume de tal coisa? Vamos colocar a bateria de tal jeito?’.
Tivemos
total liberdade para deixar em aberto o que pode vir enquanto estamos compondo,
e isso aconteceu no “Parasites” e está acontecendo, neste momento, nas músicas
novas que estão por vir. Não estamos seguindo um tipo de roteiro como: ‘Ah, o
“Pretty Ungly People” foi desse estilo, então todo trabalho que vier a seguir
será dessa forma’. Não foi uma aposta nossa, mas acabou que vimos que esse tipo
de som realmente está em falta hoje em dia e mais fora da curva do que estão
fazendo.
Tem muita banda apostando em um Metalcore mais eletrônico como o Sleep
Token – que é grande pra caramba nos Estados Unidos –, e o Slang The Previours,
que é uma banda que segue a mesma linha. Tem outras bandas dessa forma que
estão surgindo e que estão conquistando a galera mais adolescente, mas a gente
não quis apostar nisso, porque vimos que tinha muita coisa igual. E muita gente
acaba chegando em nós e fala: ‘Isso está em falta, isso não se vê mais, isso só
tinha mais nos anos 90’. E acabou que isso veio muito a nosso favor, porque
quando vamos mostrar nosso som para as pessoas, gravadoras e produtores, já vê
uma coisa diferente. Então acabou que, o que conseguimos fazer naturalmente,
acabou trazendo muito benefício.
Alfredo: O que é muito massa também é ver a galera fazendo
um som ‘vintage’, querendo fazer um resgate que vai além da música. Eu acho que
a naturalidade do nosso som faz com que não fiquemos presos a nenhum tipo de
etiqueta, a nenhum tipo de rótulo, a nenhum tipo de mapa mental e a nenhum tipo
de estratégia musical. E isso, primeiramente, é motivo de muito orgulho. E
segundo é que isso enche os olhos e nos dá muito terreno para fazer muita
coisa. Então você pode definir assim: ‘O HEADSPAWN é Groove Metal’. Ok, você
pode definir como Groove Metal, mas o que é Groove Metal? Quais são os
elementos que definem o Groove Metal? A presença do Groove? Se for isso, samba
tem groove, forró tem groove, axé tem groove.
Muita coisa tem groove! A boa
música tem groove! O fato de ser um groove pesado, você consegue fazer de
várias formas diferentes. Eu acho que será momentâneo esse rótulo, creio que é
algo que não vai perdurar por muitos anos. Eu acredito que daqui um tempo,
conforme formos lançando as coisas, as pessoas vão apontar para direções
diferentes. Eu acho que essa pluralidade de sons só nos engrandece, e isso me
deixa muito ansioso do que está por vir.
O “Parasites” tem uma progressão significativa
comparado ao EP, com a adição de elementos de música regional e da música
nordestina em geral. Gostaria que vocês falassem um pouco sobre esses
componentes e dos convidados que se incumbiram de executá-las.
Alfredo: A ideia de colocar esses elementos nordestinos
surgiu de improviso durante os ensaios, testamos timbres de algumas coisas,
começamos a puxar um som (forró, batuque, maracatu) e acaba saindo algo inusitado.
E de tanto fazer isso, a gente percebeu que gostamos desse tipo de coisa. A
primeira composição regional, por assim dizer, foi “Terra Solis”, que logo que
bateu a ideia, todo mundo se olhou e disse: ‘É, vamos gravar isso’. Aquele
triangulo, na verdade, é a cúpula da percussão da bateria.
Convidamos o Pablo
Ramires, que é baterista de uma banda paraibana – conhecida internacionalmente
– chamada Cabruêra. Ele é um baterista histórico! Só no nosso disco, ele toca
triângulo, alfaia, cuíca, zabumba e um sampler de percussão de madeira,
chinesa, em “Everybody Hates Somebody”. A participação dele foi excepcional,
temos muito orgulho de ter trabalhado com ele.
E também teve outra participação, do Fabrízio
Colga.
Alfredo: Ele é guitarrista do Incessante, banda de hardcore
daqui de João Pessoa, e tocou berimbau e pandeiro em “Fili Catinga”. Ele também
tocava numa banda muito antiga, chamada Mobiê, que era uma banda que misturava
Metal com música regional, principalmente o maracatu.
As ideias para absolutamente tudo não foi nada que
ficasse cozinhando demais, são coisas que estão sempre presentes e flutuando na
nossa cabeça. Esse é o nosso processo criativo, de consolidação de ideias e de
tirar coisas da filosofia para o mundo material. Tudo o que a gente faz tem a
cara da gente, e eu acho que isso é uma vantagem muito grande. Eu estou aqui só
contando vantagem, mas é porque eu sinto isso (risos).
O disco, por enquanto, só está disponível nas
plataformas digitais, e outra coisa que notei é que, mesmo ouvindo pelo streaming,
a sensação que dá é que estamos ouvindo o Lado A e o Lado B de um vinil devido
ele ter duas introduções. Isso também veio de forma natural?
JP: Pensamos nessa sequência justamente para caber em todo
tipo de mídia, vamos dizer assim: ele dá certo em CD, dá certo como K7 e dá
certo, obviamente, como LP. E isso acabou prevalecendo, porque o primeiro
álbum, querendo ou não, já nasce clássico e com total nostalgia por ser o
primeiro. E o primeiro álbum deve ter tudo! Quando fechamos o álbum, falamos:
‘Velho, isso cabe direitinho com o LP’. As introduções que saíram casaram muito
bem com essa ideia. Tudo nesse álbum foi muito bem pensado, desde das mídias
que iam sair até a sequência das músicas para quem está ouvindo a progressão.
Falando sobre as músicas, “Failure, Death and
Decay” se encaixaria perfeitamente no “Roots”, do Sepultura; “Ghost of Myself”
e “You Are” também tem seus destaques, principalmente as linhas de baixo que
remete a pegada do Flea, do RHCP, e do Robert Trujillo nos tempos de Infectious
Grooves. Gostaria que falassem um pouco sobre elas e se tem alguma música em
especial que vocês recomendariam para as pessoas que não conhecem a HEADSPAWN?
JP: Realmente foram músicas que tiveram bastante
dedicação, a gente pensou muito como seriam as partes instrumentais. E quando
chegou o resultado final, a gente viu que foram colocadas muito bem as ideias,
tanto de composição quanto de técnica. Eu não vou dizer que teve influência
desses baixistas que você citou, mas acaba que está ali enraizado. Eu sempre
gosto de usar várias técnicas no baixo, nunca quis ficar só no básico
acompanhando a guitarra ou fazendo um acompanhamento só para deixar a música
mais pesada. Eu gosto de usar as técnicas que eu estudei, e acabou que houve
espaço nessas músicas para usar isso. E casou muito bem, eu fiquei muito
contente que deu certo.
E para quem não conhece a HEADSPAWN, do “Parasites”
– dependendo da região e do gosto –, eu indicaria a “You Are”, que é uma música
que passa por várias nuances, desde da parte mais comercial até a parte pesada;
e também indicaria a “Everybody Hates Somebody”, que é uma música que entrega
muito da gente; e a “Ghost of Myself” também, que tem uma pegada mais pesada.
São essas três músicas que eu projetaria a banda.
Alfredo: O cara que gosta de porrada, pode ouvir “Sinking
Jetsam” tranquilo. É um som que, geralmente, pega a galera mais ‘old school’. É
a música que a galera começa a ouvir e falar: ‘Ah, eu não gosto muito desse
Metal pula, pula’, os comentários começam assim (risos). Mas quando a música
começa a se desenvolver (N.T.: Alfredo começa a banguear nesse momento) e
depois que ela termina o pessoal fala: ‘Porra, essa música é do caralho!’;
“Butchers” também é muito legal.... E só para ser diferente, eu vou de “Brought
into this World”. É uma música que acaba jogando várias imagens, várias coisas
diferentes e com uma probabilidade maior de agarrar o ouvinte.
O disco foi produzido por Victor Hugo Targino, que
também produziu o EP. Como iniciou essa parceria? Ela tende a continuar nos
próximos trabalhos?
JP: O Victor é nosso parceiro, ele que me ensinou a
tocar baixo (risos). E falando de mim, especialmente, vai completar vinte anos
que eu o conheço. Estamos trabalhando com ele não só por causa disso, mas
porque ele conseguiu entregar uma qualidade de música que eu achava que só
tinha em outros estados ou, até mesmo, em outros países. Quisemos fazer uma coisa
de qualidade e um produto que fosse apresentável, porque realmente estamos
tentando fazer alguma coisa com isso, e desde o início queríamos a melhor
qualidade de gravação e captação.
E com ele foi muito bom ter encontrado isso,
porque é daqui da nossa cidade, perto da nossa casa, qualquer problema que
tenha vamos lá, a comunicação é muito mais fácil, as reuniões são mais fáceis e
as gravações também. Então tudo isso contou para que repetíssemos com ele nesse
álbum o que foi feito no EP. E não só a gente, como outras bandas – com anos de
estrada –, estão trabalhando com ele.
Teve uma época que saímos numa rádio
americana, através de um produtor brasileiro que mora nos Estados Unidos, e ele
falou que a qualidade não tem diferença nenhuma comparado ao deles, então por
isso que pensamos em não trocar de produção do EP para o álbum. Eu acredito que
os próximos trabalhos – estando aqui em João Pessoa ou em algum canto no Brasil
– vamos estar contando com ele com certeza.
Alfredo: Muitas vezes negligenciamos as pessoas que estão
perto da gente, acaba não prestando muita atenção e busca as coisas muito
longe. E eu vou dizer para você que, pessoas de diversos lugares do país, me
procuraram para perguntar: ‘Cara, quem foi que produziu vocês? Quem foi que fez
esse trampo de gravações com vocês?’. O nosso processo de gravação é um mix de
compadres, um bocado de gente que se conhece, se gosta e se encontra para
trabalhar junto e esmiuçar as coisas. É tudo muito rápido, muito mais rápido do
que eu poderia sugerir. É impressionante mesmo.
Além da ótima receptividade que tiveram com o EP e
estão tendo com o “Parasites”, vocês receberam elogios de grandes nomes do
Heavy Metal nacional como o baterista Amilcar Christófaro (Torture Squad,
Matanza Ritual), os vocalistas Marcello Pompeu (Korzus) e o Leandro Caçoilo
(Viper) e o guitarrista Jairo Guedz (ex-Sepultura, The Troops Of Doom). Como é
esse networking com essas pessoas que são muito mais do que músicos, e sim
lendas?
JP: O networking foi uma das coisas que a pandemia também
nos fez pensar no que poderíamos fazer além de estar gravando ou compondo. E
quando todo mundo estava em casa ouvindo música durante esse período,
aproveitamos para lançar a nossa primeira música, “Voices”, que teve uma
receptividade muito massa. Mas queríamos fazer algo mais, e aí que começamos a
fazer lives no nosso Instagram e também no nosso canal do Youtube com essas
pessoas, conseguimos contato com eles através de assessorias.
O Johnny Z, nosso
assessor, conseguiu fechar algumas entrevistas, ele trouxe para gente várias
pessoas para conversar. E além dessas lives que fizemos no Instagram,
aproveitamos (nos bastidores) de trocar uma ideia com os caras: trocamos ideia
sobre música, muitos nos ajudaram em várias coisas.... O Raphael Dafras,
baixista do Edu Falaschi, me ajudou em várias coisas. Ele foi o meu professor
durante alguns meses; o Amilcar nos recebeu muito bem! A entrevista com o Jairo
Guedz foi sensacional!
O papo com todos eles deve ter rendido muita coisa,
então...
JP: Foi uma troca de ideias, não digo que nem foi
entrevista ou algo assim. E foi mais fácil chegar até eles quando lançamos o
nosso álbum, e foi muito massa a receptividade deles com o nosso primeiro
trabalho. É o nosso primeiro álbum ainda, estamos no início, mas estamos recebendo
grandes feedbacks dessa galera que são lendas, como você mesmo disse. E não
mostramos nem 5% do que temos ambição de mostrar, e eu tenho certeza que vamos
ver essas pessoas futuramente e vão ver muito material nosso. Mas, desde o
início, foi muito foda ter o abraço desses caras.
Alfredo: Esses feedbacks aconteceram, só para esclarecer, na
época do EP, ainda não tínhamos lançado o “Parasites”. Na verdade, esses
feedbacks ainda são referências ao “Pretty Ugly People”, eles conheceram a
banda naquela fase e as coisas que eles falaram foram referentes a ele. Eu
estou doido para chegar neles novamente e dizer: ‘E aí cara, o que você achou
do trabalho novo? Como é que você está vendo a gente agora?’ (risos).
Eu ainda
não tive essa oportunidade, espero fazer isso em breve. O feedback deles não
vai inflar meu ego ou vai me deixar intrigado se for negativo, é porque quando
você faz uma parada que você se orgulha, você sabe que vai ser relevante para
você e para a pessoa que você tem um carinho especial. E você fica feliz quando
uma pessoa gosta do seu trabalho, é diferente de uma pessoa que você não
conhece diz: ‘Eu gosto do seu trabalho’.
O sentimento é diferente mesmo quando uma pessoa
renomada, e respeitada por muita gente, reconhece o trabalho das bandas e
artistas que estão batalhando por um espaço na cena.
Alfredo: Existe essa coisa especial de quando é alguém que
você gosta e percebe que você é fã demais. O Amilcar, Pompeu e o Jairo são
lendas! Tem uma galera daqui de João Pessoa – eles não devem lembrar disso –
que colava nos rolês do Sepultura em Caruaru (PE). E a galera lembra do Jairo,
porque tem memória de momentos dos shows. É muito doido isso. E hoje em dia
estamos conversando com o cara e opinando sobre a nossa música. Isso é muito
relevante para gente, mas não quer dizer que isso vai nos colocar em outro
patamar.
E como está sendo a sensação de ser mais um
representante do Heavy Metal paraibano e de todo o Nordeste, que tem muita boa?
JP: Está sendo muito foda! Quando a gente iniciou,
fizemos bem o trabalho de casa em questão de ir atrás, apresentar o material e
de chegar e mostrar que é uma banda nova, mas mostrando também que o que
estamos fazendo está sendo com uma produção legal, está sendo com cuidado e
mantendo carinho com esse trabalho. Então quando chegamos, as bandas mais
antigas viram o nosso empenho e abraçaram a gente. Estamos sempre tocando com
bandas não só de João Pessoa, mas também da Paraíba, bandas aí que tem anos de
carreira que estão junto conosco organizando os shows.
E fomos muito bem
aceitos, tanto que teve muita coisa que mostramos para essas bandas e elas
pensaram: ‘Pó, com a HEADSPAWN vai dar certo!’, porque viemos de outras bandas,
então já chegamos querendo pegar um pouco do nosso espaço, mas também
entendendo que já tem que respeitar, entendendo o que tem que fazer, sabendo o
que pode melhorar, botar a cara à frente da coisas.... Enfim, com essa postura,
aceitaram bem a nossa chegada.
Alfredo: E tem aquela questão também de se comunicar com
muitas vertentes e sons diferentes, e a gente acaba que comunicamos e fazemos
shows com eles. Como o JP falou, a gente preza muito por determinadas coisas.
Tem que fazer parte do evento, tem que fazer parte da parada. E quando a galera
vê isso, ela já indica e fala: ‘Irmão, chama os caras para tocar, vamos fazer
um negócio’.
João Pessoa não é uma cidade muito grande, você consegue conhecer
muita gente do mesmo grupo social e dos mesmos interesses de música, de Rock,
de Metal, de arte e tal. Por mais que não tenha amizade, você acaba conhecendo
essa galera. E aí, de repente, todo mundo se vê trabalhando junto no mesmo
rolê. E isso é uma alegria! Eu acredito que, muito em breve, vai dar um ‘boom’
fodastico aqui no Paraíba e que você vai dizer: ‘Puxa, bem que ele falou
naquela época que ia estourar um movimento lá na Paraíba’. Eu estou sentindo
isso.
E quais são os planos da HEADSPWAN para o futuro?
JP: Lançar o “Parasites” no formato físico. Sabemos que
uma banda independente, como a nossa, tem muitos gastos que sai aí do nosso
bolso, porque teve a questão da produção do álbum e entre outras coisas. Porém
tem, sim, o plano de lançar o “Parasites” na versão física, já temos todo
trabalho de encarte e toda arte desenvolvida para que isso aconteça.
Os outros
planos que estão para acontecer é lançar os clips do “Parasites”, que não
lançamos ainda. Logo após lançar os clips, queremos lançar um EP no final desse
ano ou início de 2025, mas os planos é que seja lançado no final deste ano. E,
no final do ano que vem, lançaremos o segundo álbum da banda de músicas que já
estamos trabalhando e compondo.
Estamos aí bem ansiosos para ficar nessa
sequência de estar lançando álbum e ep, álbum e ep, porque temos muita coisa,
muita ideia e muita coisa em construção que vai dar para trabalhar em muita coisa
ainda. Quem estiver ansioso por trabalho novo e que já ouviu muito o
“Parasites”, saiba que vai vir muita coisa nova.
Após o sucesso da turnê “Living
The Dream The Hits Tour 2023” que passou por Porto Alegre em setembro com Sold
Out, a rainha retornaria seis meses depois com mais um Sold Out, mas desta vez
com o seu ex-companheiro de Nightwish o grande Marko Hietala. Para uma tour
histórica, onde ambos iriam dividir o palco novamente quase vinte anos depois.
Porém, o que seria uma noite dos
sonhos acabou não sendo bem assim e a ideia da “Living The Dream – The Hits
Tour 2024” com Marko acabou deixando um gosto amargo na boca dos fãs.
A casa abriu antes das 21h para
pontualmente a banda Andreas Solrak entrar em cena e aquecer os presentes. De
fato, seu Folk/Rock demorou a ganhar o público, não por falta de competência dos
músicos, mas sim, por ser uma escolha pouco assertiva para a ocasião. Não
combinando com a noite ali proposta. Mas no que se propuseram (mesmo tendo um
inicio prejudicado pela questão do som que engrenou algumas músicas depois) mandaram
bem e certamente saíram dali com mais pessoas interessadas em sua musica.
Com um Opinião abarrotado e com
um calor imenso, já que os ar condicionado do ambiente não davam conta e a
capital fervia como o inferno do lado de fora, notamos que o palco acústico de
Marko já estava montado e teríamos uma dinâmica diferente do show de São Paulo.
Pontualmente às 22h Marko entra
em cena para delírio dos fãs acompanhado do músico Tuomas Wainola e a belíssima
“Stones” adentra a casa e mostra que teríamos uma noite épica. Teríamos... Já era
perceptível a dificuldade de cantá-la que Marko estava tendo.Encerrando a mesma e deixando o palco
deixando todos com duvidas, pois já tinham se passado mais de 15 minutos e os músicos
não retornavam.
Ao retornar e ser ovacionado,
Hietala informa que não vai conseguir prosseguir com o show, estava com a
garganta bem prejudicada pelas mudanças climáticas e as poucas horas de sono.
Pediu desculpas e os presentes o abraçaram e foram extremamente compreensíveis com
o carismático Marko Hietala. Que informou que se fosse possível realizaria um
Meet & Greet ao final para suprir um polco à falta do show.
Então ficamos todos apreensivos,
já que Marko não estava bem, possivelmente Tarja também não estaria. O palco
foi organizado rapidamente e Paulo Baron aparece no palco para conversar com os
presentes informando que a Tarja não estava bem e antes que pudesse continuar
uma sonora vaia ecoou, onde Baron pediu calma e informou que estava ali para
fazer um pedido, que a Tarja iria subir e fazer seu show, mas queria que os fãs
a ajudassem cantando com ela.
Então a glamorosa Tarja entrou em
cena com sua excelente banda de apoio sendo ovacionada e tendo a trinca “Demons
in You”, “Die Alive” e “Diva”. Mostrando que mesmo doente Tarja é um show a
parte e não economizou sua voz o que deixou todos impressionados. De fato,
dando o seu melhor nas piores condições possíveis!
“Shadow Play” foi mais um exemplo
de superação da finlandesa e o caminho estava pronto para os clássicos do
Nightwish e uma ponta de esperança se acendeu quando Marko voltou ao palco com
Tarja, mas subiu novamente para se desculpar e que estaria indo para o hotel,
pois não estava se sentindo bem. Pedindo desculpas e a plateia gritando seu
nome em respeito à situação complicada de saúde que estava.
Mesmo assim Tarja nos brindou com
as ótimas “Planet Hell” e “Wish I had an Angel” contando com o apoio do
guitarrista Alex Scholpp nas partes de Hietala. Levantando o público.
Sabemos que as composições do
Nightwish sempre serão os pontos mais altos de seus shows, mas considero “I
Walk Alone” tão grandiosa e tão incrível o clima gerado quanto dos clássicos de
sua ex-banda. Provando que sua carreira solo é grandiosa!
Pois bem, o show se encerra com a
ótima “Until My Last Breath” e o sonho de rever esses dois ícones lado a lado
destilando os clássicos que os consagraram acabou não acontecendo. Gerando certa
frustração nos fãs ainda mais que Tarja reduziu o seu setlist para poder se
apresentar.
O gosto amargo ficou sim e quem
sabe a melhor solução para este caso seria a remarcação do show para que pudéssemos
presenciar essa tour histórica do modo em que mereceríamos, já que, Porto
Alegre sempre esteve com a casa lotada para ver a rainha Turunen. Espero que
retornem em breve para o show completo e vivenciarmos essa história que não
acontece há quase vinte anos.
P/S: novamente não tivemos pit para os fotógrafos, o que gerou certa
dificuldade na captação de fotos. Com um Opinião extremamente lotado, ficou
ainda mais difícil encontrar uma posição boa para os registros. Que são de
extrema importância para uma cobertura. Gerando ainda mais qualidade. Um ponto
a ser revisto.
Após 18 anos, a rainha do Metal Sinfônico, Tarja
Turunen, e o brilhante multi-instrumentista e cantor Marko Hietala, conhecidos
no mundo todo por serem as magníficas vozes da principal formação clássica do
Nightwish, finalmente se reencontram para a turnê latino-americana “Living the
Dream – The Hits Tour” para matar a saudade de seus fãs que sonhavam em
revê-los juntos. Em São Paulo, o evento ocorreu na sexta-feira passada (08/03)
no Tokio Marine Hall, incluindo outras datas aqui no Brasil.
Infelizmente a
noite chuvosa atrapalhou a logística, e nos impediu de chegar a tempo de
assistir à apresentação da banda de abertura Allen Key, que por sinal executa
um Rock moderno muito competente, destacando-se os belos vocais de Karina
Menasce.
O set acústico de Marko
(contrabaixo e voz), acompanhado de seu parceiro e guitarrista Tuomas Wäinölä, começou às 21h com a bela “Stones”, primeiro track de seu álbum solo “Pyre Of
The Black Heart”. É muito fácil apreciar qualquer música na belíssima voz de
Marko, que continua em plena forma como sempre. Ao término da “Crazy Train”,
cover de Ozzy Osbourne, Marko fala sobre sua carreira solo e sobre o lançamento
do single “Left On Mars”, que
conta com a participação de Tarja Turunen. Logo após tocam “Two
Soldiers”, que também estará em seu segundo álbum solo, a ser lançado em 2024. Marko agradece ao final da música, disse que é ótimo estar de volta a São
Paulo, o público aplaude e começa a gritar “Marko” sem parar.
A próxima música, de acordo com o Marko, “é algo que nunca fica velho” e de um
outro grande astro do Metal. Fazem uma pequena intro com firulas e, então,
tocam “Holy Diver” (cover do Dio), que ganhou uma improvisação no final com
Tuomas batendo os pés rápido como se tivesse um pedal duplo, além de fazer
ressoar os instrumentos. Marko gritou “Don’t Talk To… Don’t Talk To
Estranjeros”, fazendo alusão a outra canção de Dio. O público seguiu empolgado
e aplaudindo.
Após os agradecimentos, Marko deixou o seu baixo
em repouso por um tempo e pegou uma guitarra acústica para tocar a próxima
música, “The Islander”, do Nightwish. Antes de começar, ele brincou falando que
pode tocar várias coisas, deixando todos felizes em vê-lo cantando e tocando a
música de sua antiga banda.
Com o baixo novamente em mãos, fechou seu set
acústico com a poderosa “Children Of The Grave”, cover de Black Sabbath, que
teve um coro bem empolgante do público. Ao final, Marko despede-se com os
gritos de ‘Marko, Marko, Marko’ mais uma vez.
Enquanto todos aguardavam o próximo show, notava-se o calor aumentando ao redor
da imensa pista premium, que estava lotada. Mas neste momento seria impossível
sair para o bar, correndo o risco de perder o lugar para a principal atração da
noite. Tarja Turunen, às 22hrs e com um leve atraso de poucos minutos, começa o
set com “Eye Of The Storm”, canção inédita que consta na coletânea “Best Of:
Living The Dream” (2022) e que levaram a plateia à loucura quando a cantora
entrou no palco.
Em inglês e português, Tarja disse que é lindo estar de
volta aqui no Brasil e ver todos sorrindo e felizes. “Demons In You” – do “The
Shadow Self” (2016) e que em estúdio conta com a participação de Alissa
White-Gluz, mas com os backings do guitarrista Alex Scholpp e do baixista Pit
Barret ao vivo – deu seguimento ao show.
Uma bela intro com a orquestração de Guillermo
de Medio e um solo de bateria bem interessante de Alex Menichini fez
com Alex Scholpp entoa-se os acordes de “Die Alive”, um clássico do “My Winter
Storm” (2007). A plateia ficou bastante animada cantando junto ao ponto de a
Tarja fazer agradecimentos no meio da música, que sem perder tempo, mandou a
música com o título que faz jus a sua beleza, “Diva”, do “The Shadow Self” (2016).
Logo depois, ela
perguntou se alguém sabia quantas vezes ela veio a São Paulo, mas ninguém soube
dizer: ‘como assim, eu achei que vocês sabiam! Eu não sei, quem sabe? Ok, a
primeira vez foi em 2000, certo? Isso é 24 anos atrás! É bastante tempo, mas eu
amo isso’, falou.
No piano, cantou a bela “Shadow Play”, do “In The Raw”
(2019). Neste momento, principalmente, ficou evidente o bom entrosamento entre
Alex, Julian, Pit e ela, que deixou o palco para que o Alex Scholpp e Julian
Barret executarem um belo dueto de guitarras.
Eis que, finalmente, chega o momento mais
esperado da noite: Tarja e Marko chegam juntos ao palco, sendo fortemente ovacionados
pela galera. Afinal, são 18 anos desde que os ouvimos juntos pela última vez no
Nightwish. Começaram com o clássico “Dead To The World”, do “Century Child”
(2002) e depois com “Dark Star”, do “What Lies Beneath” (2010). Não há palavras
suficientes para descrever este momento, mas vocês podem imaginar a empolgação
de todos do início ao fim cantando junto. É maravilhoso ver Tarja e Marko
cantando felizes, como se o tempo não houvesse passado. Suas vozes permanecem
intactas e parecem bem à vontade no palco.
Tuomas Wäinölä apareceu ao palco para fazer participação em “Left On Mars”, que
foi lançado oficialmente nas plataformas digitais na última quarta-feira
(13/03). Porém houve um problema em seu equipamento, e Tarja brincou dizendo
que foi culpa dela quando foi abraçá-lo. Todos encararam de boa, tanto é que o
público começou a gritar ‘ole, ole, ole, ole, Tarja, Tarja’ e logo depois ‘ole,
ole, ole, ole, Marko, Marko’. Sem dúvidas é um belo dueto, e esperamos que eles
façam mais duetos em breve! ‘Bem, neste ano nós gravamos um novo dueto
novamente. É uma música que eu e Tuomas Wäinölä compomos, eu convidei a Tarja e
ela disse sim. Foi um acordo de cavalheiros, o que fizermos depois, eu prometo,
vocês vão curtir’, falou Marko antes de executá-la.
De volta ao palco, Marko e Tarja cantaram a
empolgante “Dead Promises”, mais uma do último álbum “In The Raw” (2019), com
Alex, Pit e Julian agitando bastante. Tarja perguntou se Marko estava feliz,
que respondeu: ‘sim, está sendo realmente muito divertido’. Tarja disse que,
realmente, depois de todos estes anos, está sendo uma grande diversão. Sendo assim, despejaram mais pérolas, como a poderosa “Planet Hell”, do “Once” (2004) – último
álbum do Nightwish com Tarja nos vocais e que esse ano completa duas décadas de lançamento. Com
certeza um dos pontos altos da noite, com o público cantando e agitando sem
parar do início ao fim. A animação seguiu com “I Wish I Had An Angel”, também
do “Once” (2004), com Tarja bangueando.
Mais músicas da carreira solo da Tarja foram tocadas antes do tradicional Bis: a clássica “I Walk Alone”,– que no finalzinho fez um
trocadilho cantando ‘na verdade eu caminho com vocês’ – e “Victim Of Ritual”,
do “Colours In The Dark” (2013). Nesta música o público faz um belo coro junto
com a cantora. O final apoteótico desta música, mais uma vez, mostrou a
competência dos músicos de apoio com direito a mini solos de guitarra e
bateria.
Novamente sob os gritos de ‘ole, ole, ole, ole, Tarja, Tarja’, a cantora e seus
músicos voltam para mandar a última trinca da noite, dando o pontapé inicial
com a bela “Innocense”, do mais uma do álbum “The Shadow Self” (2016). Ao longo do show, o telão
passava os clipes de várias músicas. Tarja apresentou seus músicos e agradeceu
o apoio de todos. O público reagiu com muitas palmas, que pediu sem parar “The
Phantom Of The Opera”, seu mais famoso dueto com Marko, mas era a vez de
executar mais uma do álbum “What Lies Beneath" (2010), e a escolhida foi “Until My Last
Breath”.
A galera queria ver mais um dueto com Marko,
tanto é que gritaram novamente (sem parar) “The Phantom Of The Opera”. Ele e a
Tarja, que neste momento estava vestida com uma camiseta da Seleção Brasileira
de futebol, se uniram novamente para encerrar o show com o cover de “Over The
Hills And Far Away”, do Gary Moore, e que é bem conhecido entre os fãs de
Nightwish. Mais uma vez, o público ensandecido gritou com todas suas forças
“The Phantom Of The Opera”, mas sem sucesso. Quem sabe numa próxima...
Em tempo, esperamos que Tarja e Marko se
recuperem totalmente e que voltem a brilhar tanto quanto como brilharam nesta
noite maravilhosa, em São Paulo, fazendo novos duetos no futuro.