domingo, 19 de janeiro de 2014

Resenha de Show: Blaze Bayley Marcando a História do Heavy Metal de Santo Ângelo/RS

Apresentação foi a única no Rio Grande do Sul

Meses atrás foi anunciado que o ex-vocalista do Iron Maiden, Blaze Bayley, iria a Santo Ângelo/RS, cidade do interior do Rio Grande do Sul e centenas de quilômetros longe da capital, para uma apresentação única no estado. Muitos duvidaram, outros ficaram com um pé atrás, houve até quem apostava em cancelamento da data.

Foram passando as semanas, os ingressos começaram a ser vendidos, até que uma semana antes, Blaze e seu companheiro do violão Thomas Zwijsen enviaram um vídeo, já no Brasil, convidando a todos para a apresentação do dia 22 de dezembro de 2013, na Up Entretenimento.

Black Warts começa a buscar seu espaço enquanto prepara primeiro disco

Com mais de 700 pessoas, um ótimo público, considerando o domingo (dia de concurso público e muitas pessoas não puderam ir por trabalhar na segunda), a expectativa era imensa, com pessoas das mais variadas cidades e até mesmo de fora do Rio Grande do Sul. A vale mencionar a estrutura do local, de som e de luzes, tudo de ótima qualidade.

Mas, antes, a Black Warts (Cerro Largo/RS) foi a responsável por esquentar o público com sua proposta de um Heavy Metal clássico, mas com uma pegada moderna. A gurizada da banda pode mostrar para as centenas de pessoas que estavam na Up a força, técnica e energia de um som do grupo, que está por lançar seu álbum de estreia nas próximas semanas.

Com um set basicamente formado por composições próprias (o que merece um “Salve!”, pois a maioria das bandas novas teme mostrar suas composições, isso quando as têm), mas onde também não faltou clássicos de bandas como Led Zeppelin, Motorhead e, claro, Iron Maiden.

Thomas toca "The Number of the Beast" com Black Warts
Abrindo com “Bad Sacristan”, a Black Warts começava a aquecer o público, que ainda chegava ao local do show. Em seguida, “Black Warts” vem como hino desse grupo que tem tudo para despontar como uma das revelações de 2014. No ritmo, “Paranoia” veio antes do primeiro clássico a ser executado: “Ace of Spades” (Motorhead) incendiou a galera, especialmente a parte do público que ainda não estava convencida da qualidade dessa galera. Aqui, alguns moshes aconteceram.

Impressionou a presença de palco do vocalista Adriano Nedel, que literalmente pulava de um lado ao outro do palco, algumas vezes até de forma exagerada, encobrindo um pouco a presença dos demais integrantes. O carisma conquistou o público, chamando este o tempo todo para cantar com a banda. A única ressalva vai ao sentido de alertar que, falar com o público brasileiro, sendo uma banda brasileira, em inglês, soa um pouco non sense. Fica o alerta.

Como a proposta é fazer-se conhecer, mandaram mais duas de suas composições: “Sin Road” e “Bridge of Hell” colocaram todos a bater cabeça (aqui a banda já não deixava dúvidas sobre sua qualidade). Seguiu-se mais um clássico, com “Rock & Roll” (Led Zeppelin), em que a galera mais “antiga” ficou impressionado com a execução do grupo, que foi seguida por um solo de bateria inspirado de Maguila Becker. Aliás, o grupo todo mostra que sabe o que faz, apesar de pouca experiência em palcos.

Após executar várias músicas próprias e alguns clássicos, Thomas sobe ao palco e, com 3 guitarras, executa Iron maiden

Ainda com alguns minutos de shows, seguiu-se “To Forget”, mais uma própria da banda, que deu lugar a quebradeira de “Master of Puppets” (Metallica) (aqui, não sobrou pescoços parados); “No More Lies” e “Sands of Time” mostraram a boa capacidade de cirar músicas mais lentas, para estourar com “The Number of the Beast” (Iron Maiden), fechando o show de forma especial, pois contaram com a participação de  Thomas Zwijsen, que logo mais subiria ao palco com o Blaze, e a participação de Alex Finckler, vocalista da região conhecido pelo seu timbre e presença de palco bastante semelhante ao de Bruce Dickinson. Uma ótima forma de encerrar um grande show e colocar as atenções voltadas à Donzela de Ferro, pois em poucos minutos, um de seus vocalistas estaria naquele palco.

Thomas abre apresentação com os arranjos do seu Nylon Maiden

Com o público bastante ansioso e já agitado pelo show da banda local, Thomas volta ao palco, agora munido de seu violão e de maneira solo, executou 3 clássicos da Donzela, começando com “Aces High”, passando por “The Trooper”, “Fear of the Dark” (esta, como sempre, levantando todo o público e alvo de vídeo clipe oficial) e “Blood Brothers”, todas sendo cantadas pelos fãs mais ávidos e aqui Thomas já mostrava, para quem ainda não o havia visto tocar, o prodígio que é (se ele, com apenas 25 anos já toca tudo isso, imagina mais velho!).

Anne Bakker fez sua última apresentação ao lado de Blaze e Thomas, encerrando a turnê mundial em terras gaúchas

Para executar “Wasting Love”, Anne Bakker e seu violino entram em cena, arrepiando a todos, pois além de ser talentosa e ter feito releitura do clássico no instrumento, a grande parte do público jamais vira e ouvira um violino assim, ao vivo, no mesmo palco onde se toca Heavy Metal. E a versão tirou grandes sorrisos dos presentes e se alguém tinha dúvidas de que um show acústico seria muito bom, deve ter perdido ela ali mesmo.

Aos primeiros dedilhados de “Judgement of Heaven”, uma das melhores composições com os vocais de Blaze no Iron Maiden, o Messiah sobe ao palco e se apresenta para as sedentas e ansiosas 700 pessoas, sendo muito ovacionado, sobretudo ao falar em português com o público, mesmo que seja só o “Tudo bem?”. Que canção que ao violão e violino extrapolou a beleza da versão original! Eu, particularmente, desejava muito que fosse executada.

Sem delongas, o primeiro grande clássico com Blaze no palco: “Lord of the Flies”, para incendiar os fãs e até mesmo a parcela do público que pouco conhecia da sua fase no Maiden. Seguiu-se a bela e triste “Como Estas, Amigos?”, primeira canção da noite do mal falado “Virtual XI” (1998). Incrível perceber que, passados mais de uma década e meia, centenas de vozes cantaram essa canção (que nem o Maiden tocava ao vivo na época), especialmente no refrão.

Com grande carisma, vocalista recebe e é recebido pelo público gaúcho

Após a overdose de Maiden, Blaze executa duas da carreira solo: “Meant to Be” (belíssima e muito aguardada por este que vos escreve) e “The Launch”, mostrando uma partezinha da grandiosidade da sua carreira, até voltar ao Iron Maiden com “Futureal” (uma das melhores faixas de abertura da carreira da banda), colocando o pessoal a agitar de novo até “Soundtrack of Life”, a primeira parceria de Blaze com Thomas e uma canção cujo arranjo ficou perfeita.

“Stealing Time” veio, como a única composição inédita executada do EP “Russian Holiday” (2013), com Blaze falando sobre todos os roubos que sofremos, dos bancos, dos políticos e do roubo do tempo que estamos sofrendo, certamente alusão à vida corrida que parece nos deixar com a sensação de que não temos tempo para nada. Aqui o violino de Anne é quem carrega a música nas costas.

"Freeedoooommm!"
Um dos maiores clássicos, se não o maior, da sua passagem pelo Maiden, veio em seguida, acompanhada de muita emoção dos presentes e, claro, de uma interpretação digna de Oscar de Blaze. Falo de “The Clansman”, música respeitada até mesmo pelos fãs da banda que não gostavam do seu trabalho na época. E os arranjos de violinos, mais uma vez, roubam a cena. Morrerei e jamais esquecerei desse momento.

Para quebrar um pouco a seriedade, “Doctor, Dorctor” (The Who) é executada. Essa faixa, que além de servir como “aviso” nos shows do Maiden (antes de iniciar a introdução, sempre é executada), a versão foi gravada com Blaze como lado B de single, nos anos 90. Vale a diversão da faixa e o carisma de Blaze cantando-a.

Era chegado a hora de uma das mais belas e marcantes canções da carreira solo de Blaze, aquela faixa que fechou o seu primeiro disco solo, logo após deixar o Maiden e que, segundo algumas fontes, poderia ter estado no próximo disco do Maiden (caso o vocalista tivesse sido mantido). “Stare at the Sun” é uma obra-prima, não menos que isso, cujo arranjo violão e violino veio a casar perfeitamente com a melodia e interpretação de Blaze. Linda e outra para jamais esquecer.

Blaze e Anne executando "Virus"

Muito esperada e praticamente não executada na turnê, “Virus”, música que, segundo o próprio Blaze, diz ser a mais representativa dele no Maiden, ecoou pela Up, com muita gente não acreditando estar ouvindo-a. Nessa faixa, também, o vocalista tira fotos da plateia, registrando o grande e fanático público.

A todo instante, Blaze chamava o público à interagir

Ainda havia tempo e faltavam clássicos e, para caminhar par ao final, “Man on the Edge”, como não poderia deixar de ser, foi uma das faixas que mais agitou o público. Canção seminal dos anos 90 do Maiden, há quem acredite que a banda ainda voltará a tocá-la como sexteto. Por ora, a voz original é a responsável por dar vida nos palcos mundo a fora. E, em Santo Ângelo, o público foi ao êxtase com a mesma.

“Sign of the Cross”, clássico absoluto do Iron Maiden, não podia deixar de ser executada. Esse épico sombrio, marca um dos momentos mais negros (no bom sentido) da carreira do Iron Maiden que, após a saída de Bruce Dickinson, apresentou seu novo vocalista, Blaze, abrindo o “The X Factor” (1995) com esse som. 11 minutos, muitos momentos variados, dueto entre Thomas e Anne de encher os olhos (e ouvidos!), fizeram desse som um dos ápices (se não o maior deles) da noite.

Com gostinho de adeus, “The Angel and the Gambler” fechou a apresentação, esta que foi a última música do último show com Anne Bakker, a linda e talentosa musicista, que logo no dia posterior partiu de volta para a Holanda. E aqui, como um último adeus, ela deu um show, empolgadíssima com a canção, que, apesar de muitos não gostarem pelo seu refrão repetitivo, certamente marcará as vidas dos presentes neste show.

Uma noite história para a região, para os fãs de Iron Maiden e até mesmo para quem só estava ansioso por alguma atração diferente, já que, infelizmente, a região das Missões não abre espaço algum para o Rock/Metal, seu público muito restrito não participa como poderia dos eventos, e a organização, mesmo assim, apostou que o show seria um sucesso aqui, e obteve êxito. 

Blaze Bayley provou, se é que ainda era preciso, o grande vocalista que é

Fica nossos agradecimentos ao Tadeu Salgado por encabeçar a vinda do Messiah aqui e mostrar para a região que, sim, podemos reunir centenas de pessoas em ótimos eventos. Conte com o Road to Metal sempre!

Texto/edição: Eduardo Cadore
Fotos: Road to Metal (Eduardo Cadore/El Panda)

Assista à vídeos exclusivos da apresentação acessando nosso canal no Youtube clicando aqui.

Obs: O setlist pode não estar na ordem (ou mesmo com alguma faixa trocada) e a explicação é simples: o redator, grande fã de Blaze desde os 13 anos de idade, estava diante do seu ídolo pela primeira vez. Então, a resenha foi mais emocional que profissional (o que não quer dizer descuidada). Assim, caso alguém identifique algum erro, peço desculpas.

Setlist Blaze Bayley
01 – Judgement of Heaven
02 – Lord of the Flies
03 – Como Estas Amigos
04 – Meant to Be
05 – The Launch
06 – Futureal
07 – Soundtrack of My Life
08 – Stealing Time
09 – The Clansman
10 – Doctor, Doctor
11 – Stare at the Sun
12 – Virus
13 – Man on the Edge
14 – Sign of the Cross
15 – The Angel and the Gambler 

Set List Black Warts
01 - Bad Sacristan
02 - Black Warts
03 - Paranoia
04 - Ace of Spades (Motorhead)
05 - Sin Road
06 - Bridge of Hell
07 – Rock’n Roll (Led Zeppelin)
08 - To Forget
09 - Master of Puppets (Metallica)
10 - No More Lies
11 - Sands of Time
12 - The Number of the Beast  (Iron Maiden) (com Thomas Zwijsen)

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