sábado, 1 de novembro de 2014

Entrevista: Noturnall (Parte I) - "...Um Tipo de Liberdade Que Nunca Tivemos...É a Experiência Máxima de Liberdade no Som..."



“Chega, Gabriel! Preciso ir dormir, porque amanhã o dia vai ser complexo”, foi desse jeito que entrevista com o Thiago Bianchi, vocalista do Noturnall, tinha acabado na madrugada do dia 17 de outubro.

Exausto, depois de uma longa viagem pra BH em busca de um Motor Home, que vai transportar a banda durante a turnê brasileira que vai ser realizada em novembro, o próprio fez questão de atender a equipe do ROAD TO METAL para um longo e agradável bate-papo, também com muito bom humor, discutindo, principalmente, sobre a recepção do primeiro disco, o recém-lançado DVD e a satisfação com o atual momento, e ainda as declarações a respeito da cena brasileira que causaram polêmica algum tempo atrás, e outros assuntos ligados à música.

A conversa rendeu tanto que tivemos que dividir a entrevista em duas partes! Confira a primeira parte a seguir:


RtM: Antes de falar do Noturnall é bom lembrar que você, o Fernando Quesada, Léo Mancini e também Ricardo Confessori, em cerca de 7 anos de parceria, lançaram 3 álbuns e um DVD, e agora vocês três, tendo Aquiles na bateria, lançaram o primeiro álbum do Noturnall. Com a experiência adquirida através destes anos na música, que elementos você acredita que são essenciais para uma banda se diferenciar no cenário, consolidar-se e ter uma longevidade?
TB: Na verdade isso nem vem tanto do Shaman, mas sim de uma vida inteira ligada a música. Eu sou filho de cantora e de baterista, e estou no mundo da música desde que eu me lembro. E música pra gente é nada mais e nada menos do que você realmente é, de não tentar ser alguém diferente, ou não tentar fazer pra agradar ciclano ou fulano, ou pra tentar se vender por dinheiro... Eu entendo que minha carreira tem sido extremamente satisfatória pra mim, porque o que mais importa na vida é você ser feliz, e justamente porque eu nunca tentei me vender e agradar os outros mais do que eu. 

"Realmente, gosto de fazer música, e isso, em primeiro lugar, é o que importa, seja fazendo música pelo que vem dentro de você, e não pelo que você gostaria que as pessoas te enxergassem de certa forma."


RtM: Falando agora no Noturnall, o som da banda apresenta muita agressividade e peso em todos os aspectos, seguindo uma linha diferente do Shaman, que apesar também de soar pesada, incorpora e investe mais nas partes melódicas. Sair um pouco fora de um ambiente musical, de um círculo digamos, mais voltado ao Power Metal, e apostar em coisas diferentes lhe dão uma sensação de liberdade?
TB: Todas as bandas que eu fiz na minha vida, e digo mais uma vez: “Eu nunca fiz Música para os Outros”. Sempre fiz música pra mim, mas não de forma egoísta, mas sim simplesmente colocando a minha pessoa em primeiro lugar, sob o ponto de vista de se eu estaria feliz fazendo aquilo. O Karma foi a minha primeira banda profissional, por assim dizer, e foi a banda que, na verdade, me ensinou que a música é isso. 

E o Shaman foi uma consequência, porque eu tive que me adequar numa outra realidade, que era a realidade de uma banda que já existia e que já tinha obtido sucesso. E eu, simplesmente, segui os passos de uma pessoa que já havia obtido esse sucesso dentro desse caminho: o cara trilhou um caminho, achou um caminho, e eu vim num primeiro momento seguindo esse caminho e depois descobrindo meus próprios caminhos, como as coisas tem que ser no mundo natural, que é dar os seus primeiros passos! Bate as asas e voa.

RtM: O Shaman foi uma parte importante, então, porque já tinha um nome e um conceito praticamente consolidados, e isso lhes colocou uma responsabilidade grande...
TB: No nosso caso a gente sentiu que o Shaman nos fez ter uma identidade quanto banda, sob o ponto de vista de quatro indivíduos que se conheceram numa realidade diferente, que era fazer um determinado tipo de música pra alguém que já esperávamos, sendo o Fernando Quesada, Léo Mancini, Fabrizio Di Sarno e eu, e o Juninho Carelli um pouco mais tarde. E a Noturnall foi, finalmente, uma espécie de “nirvana”, que não é a banda, mas sim quando você atinge o seu ápice dentro do budismo.  E a gente entende que a Noturnall entrou no seu ápice musical de liberdade, porque não devíamos nada pra ninguém, não queríamos agradar ninguém e não queríamos ter nenhum tipo de amarra, queríamos simplesmente fazer música pra quem tivesse a fim de ouvir música do jeito que a gente gosta de fazer.

RtM: Entendemos que o Noturnall seria o próximo passo, ao caminho estava aberto para criar...
TB: E eu acho que a Noturnall é a nossa experimentação máxima de liberdade musical justamente por isso, que é por não ter amarras com ninguém, com nenhum outro estilo e com nenhum tipo de fã. E simplesmente encontramos os fãs que sempre quisermos ter, que são aqueles que amam música e não amam um determinado estilo, ou amam um determinado estilo de vida ou um grupo de pessoas, e isso eu posso falar com muita propriedade, porque eu vivo com esses caras dia a dia.

E eu sei que a liberdade que a gente experimentou no Noturnall é um tipo de liberdade que a gente nunca teve na carreira, e que não pretendemos voltar pra nada que seja menos do que a gente está tendo agora. E a gente conseguiu ser feliz sem nenhum tipo de parede nos impedindo de fazer o que a gente quisesse fazer, e a Noturnall é a experiência máxima de liberdade no som, e por isso tem dado certo, porque as pessoas entendem que é algo honesto e feito do coração, e não pra agradar alguém ou vender pra quem seja.


RtM: Desde 2010, o Shaman não lançava um material novo. No ano passado, através de vários meios de comunicações, vocês chegaram a divulgar que preparavam um disco novo, que seria o 5º disco da banda. Mas com o passar do tempo, bem na metade do ano passado, foi feito o anúncio de que vocês trabalhavam um novo projeto, o Noturnall. Agora, com toda a repercussão podemos dizer que o Noturnall não foi idealizado como apenas um projeto? Seria a prioridade? E quanto ao Shaman?
TB: A Noturnall nunca foi um projeto, sempre foi divulgado como banda. Nunca foi algo que a gente disse pra mídia que era uma coisa pra gente testar em fazer enquanto o Shaman não voltasse, ou outro lance do tipo. O que acontece é simples: nós nos sentíamos amarrados a um tipo de som e a uma agenda que não nos pertencia, na qual não nos deixava ser donos dos nossos próprios narizes. E finalmente resolvemos assinar a nossa própria carta de alforria, porque não aguentávamos mais esperar outras pessoas resolverem o que queriam da vida. E resolvemos fazer o que a gente tinha em mente, que foi fazer esse disco, até na própria época do Shaman. Podiamos ter feito muitas coisas naquela época, mas a agenda de outras pessoas, que não é só o Ricardo e não botando culpa nele diretamente, mas sim de gravadoras e de gringos que esperavam algo da gente, botando amarras ou nos colocavam em caminhos que a gente não tinha exatamente em mente seguir.

E por isso, às vezes, eu soava tão falso, não pela questão musical, mas sim pela questão de pensar, do tipo: “Será que era aquilo mesmo que essa banda deveria estar fazendo?” E você pode ter certeza, que se você ouvir os CDs e assistir os DVDs que a gente fez com o Shaman, você vai ver que sempre fomos honestos e sempre colocamos o coração na ponta do microfone ou na ponta da palheta, que é uma coisa até mais fácil de entender do que 2+2 são 4. Então isso não posso dizer, que teve algum tipo de amarra, mas a questão de agenda sempre foi sufocante pra gente.
"E quando a gente viu a situação de que a própria música já não falava mais a nossa língua, ficamos em sinal de alerta e falamos: ‘Isso aqui não é exatamente o que o Shaman deveria ser."

RtM: Entendo. Vocês já não estavam felizes com o que estavam fazendo, e ainda estavam se sentindo “amarrados”...
TB: E tem o respeito ao público, que espera um determinado tipo de música que a gente ajuda construir, e também o que as pessoas esperam que a gente seja enquanto músicos, do nosso estilo de ser e de viver. E não sentíamos que isso fazia parte do Shaman, o que ajudou a tomarmos a decisão de que, além de tudo aquilo que estava acontecendo musicalmente, a nossa situação “agendística” já não batia com o que a gente esperava que a banda fosse, porque tinha se tornado uma banda amarrada e dependendo da agenda de outra banda.

E isso é, no mínimo, ridículo pra qualquer tipo de pessoa ou qualquer tipo de profissional que queira botar a sua carreira em dia e que queira ser feliz com o que você faz, porque o mais importante do que dinheiro é ser feliz. E não tínhamos mais felicidade, porque a gente não conseguia fazer nada sem saber se a agenda de outra banda ou de um determinado agente ou empresário tinha os mesmos interesses que a gente. Então o inútil acabou se alinhando ao desagradável nesse momento, porque simplesmente estávamos na lama, tanto em termos de agenda e de música, porque tínhamos músicas honestas, felizes, bem montadas, mas que não conseguíamos levar pra frente por conta das agendas de outras pessoas e dos interesses de profissionais que não nos cabiam e de não deixar de viver como gostaríamos.


RtM: Aí chegou a hora de dar um basta?
TB: E simplesmente mandamos todo mundo tomar no cú e resolvemos fazer nossas coisas do nosso jeito, porque tudo que foi feito no Shaman, desde quando entramos na banda até agora, foi sempre feito por nossas mãos, porque nunca dependemos de ninguém, nem de dinheiro e nem da vontade de ninguém, além de nós mesmos. E o Noturnall nada mais é do que uma continuação do que a gente fazia, com uma peça a menos que estava mais concentrada na sua outra banda, que é o caso do Ricardo com o Angra do que no Shaman. O ponto de vista e as motivações dele eu já não posso te dizer, pois não sou alguém que pode te responder pelo Ricardo, mas eram motivações que não nos cabiam. E tudo que a gente havia conseguido, todas as músicas prontas, todas as linhas feitas, todas as linhas gravadas, Russell Allen sendo convidado e aceitando, amizade com bandas mundo afora, gente nos convidando pra tocar, fazer turnê...

Tudo isso estava acontecendo, só não conseguíamos fazer a banda acontecer. E a música já não cabia mais dentro do próprio nome, então foi uma questão mais do que natural das coisas degringolarem do que jeito que degringolaram. E não podíamos estar mais felizes, pois acho que o rio sempre corre pro mar. E a partir do momento que as coisas mostravam pra gente que deveria ser dessa forma, e que aceitamos ouvir o nosso coração, a voz do coração sempre é a mais certa de todas, e isso foi comprovado mais uma vez nessa questão do Noturnall. 

RtM: E quanto a escolha do nome "Noturnall"? Pra mim soa como uma coisa nova e diferente, inclusive a faixa “Not Turn at All” parece um jogo de palavras, cuja pronúncia soa similar ao nome da banda. Qual o significado por trás do nome, e como surgiu a ideia de batizar o grupo com esse nome?
TB: A gente falou um pouco disso no documentário, que veio antes da banda. E foi exatamente isso, pois tínhamos a música “Noturnall Human Side”. E claro que, em algum momento, nós falamos: “Cara, essa é a música mais importante da nossa carreira”, porque ela demorou tanto pra sair, pois ela teve 2 clips gravados com pessoas diferentes, e fomos para Nova York 2 vezes pra fazer takes semelhantes. Então, em cima de uma música, simplesmente achávamos que não deveríamos descuidar dela, porque a música é simplesmente animal. Às vezes você acha que é uma coisa ‘overcrow’, como os gringos chamam o que é feito duas vezes, ou às vezes é feita vezes demais e que você acaba perdendo a magia dela.

E “Noturnall Human Side” é uma música que a gente não conseguia deixar a magia dela sumir, por mais que a gente fizesse cagada em cima dela ou que a gente gravasse de um jeito. A gente simplesmente entendia que a música sobrevivia a tudo, porque ela é uma espécie de poder nuclear. Então, por muitas vezes, pensamos em chamar a banda de Noturnall e que, para qualquer metaleiro que tenha alguns dias de vida no mundo do Metal, sabe que existe uma banda famosa chamada Noturnall. 

E a gente não tinha como passar por isso, porque não queríamos ter mais problemas com nome, que foi algo que a gente viveu há tanto tempo no Shaman. Muita gente acha que o nome foi roubado e que teve um começo esquisito, porque os caras saíram e o baterista da banda ficou com o nome.


RtM: Verdade, até você poderia nos contar sobre isso.
TB: E é uma coisa que até gosto de relembrar, porque o que as pessoas não sabem é que a banda era sim do Ricardo. E eu não ouvi falar sobre isso, pois eu estava no momento em que a banda foi criada. E pra quem não sabe, eu produzi a demo e as percussões do álbum “Ritual”, e eu mal sabia que me tornaria vocal da banda depois de 5 ou 6 anos. Eu falo isso como muita naturalidade e com muito conforto, por mais que o Shaman tenha tido os seus problemas pessoais e tal. E essa história de nome me incomodava muito, porque era muita gente falando besteira e no “diz que me diz”, que infelizmente, isso é uma coisa que acontece muito aqui no Brasil, que é a fofoca. E no Metal poderíamos ser menos fofoqueiros.

E isso é uma coisa que eu estou feliz, porque atraímos pessoas com nosso nome, e não o público fofoqueiro e mala. Eu acho que esse tipo de pessoal ficou pra trás e ficou com os artistas que merecem esse tipo de público, pelo menos até aqui, mas que vou lutar pra que isso não aconteça na nossa geração. E voltando ao fato do nome, Noturnall era o nome que perseguia a gente e que até o Ricardo ajudou a dá-lo, porque era justamente na época que estávamos com os planos de fazer uma banda nova e fazendo alguns shows, e a amizade que a gente tinha com ele nunca nos impediu de falar as coisas abertamente.

RtM: Acabou então que o nome “Noturnall” praticamente veio até vocês.
TB: Noturnall é um nome que sempre permeava a gente, até que a gente começou falar muito sobre a questão de voltar atrás. E é melhor uma mudança tardia do que nenhuma mudança, então isso em inglês acaba soando assim: “A late turns is better than no turn at all”, que na verdade é o significado do nome, que é melhor você mudar do que você nunca mudar, e viver achando que você poderia ter mudado e não mudou. 

Então “No Turn At All” é uma coisa que ficou dentro do que a gente queria, casou perfeitamente, com o nome que estava permeando os nossos corações e ainda explicar o que estávamos passando naquele momento. E é um nome que chamou por nós, porque não foi à gente que escolheu o nome, foi o nome que escolheu a gente. E um nome legal de banda acontece desse jeito, tanto que, se você olhar o nome da banda no CD, DVD e em todo lugar que aparece, você vai perceber que tem uns pontinhos em “Noturnall”, que é um diminutivo de “No Turn At All”, pra explicar que na verdade o significado completo é “No Turn At All”.


RtM: Eu vi que a faixa "No Turn It All" está sendo trilha sonora do XFX da RedeTV! correto? Como surgiu essa oportunidade?
TB: Sério? Eu sei que tem algumas pessoas que trabalham em redes de televisão que colocam certas músicas nossas, e que chega pedido direto pra gente. A “No Turn It All” realmente foi usada em UFC e em alguns momentos de trilhas de internet, mas não tinha notícia de que tinha sido de televisão. Mas eu vou me informar, porque é uma coisa animal. Gravamos o clip nos estúdios nogueira, que inclusive gostaria de mandar um abraço para os irmãos nogueira, o Minotauro e Minotouro, que nos batizaram naquele momento e deram a oportunidade de poder usar e abusar dos octógonos deles.

E que prazer saber disso, ainda mais no meio jornalístico. Gostamos muito de UFC não pela violência, mas sim pela técnica, porque técnica nos atrai em tudo, seja na medicina ou na porrada comendo no octógono. E técnica é tudo na vida! Você não precisa de força, mas sim de jeito pra fazer as coisas. E isso não só na música, mas sim no UFC, na medicina e em tudo no mundo. Uma estrela não precisa de força pra nascer, ela só precisa de jeito. Muito obrigado por essa notícia!

RtM: Voltando a sonoridade do Noturnall, percebe-se que a banda busca inovar e diversificar em cada faixa, apostando em levadas que lembram muito as bandas de Thrash Metal, principalmente naquela levada Pantera. Esse aspecto é uma tentativa de atingir um novo público, apostando naqueles que curtem coisas mais pesadas, algo mais atual ou moderno? Já que o Shaman tem características de Power Metal? E aproveitando a brecha, você que acha que o estilo (Power Metal) hoje está em decadência?
TB: Eu noto que você está realmente querendo que eu chute ou respire, mas eu não vou fazer isso (risos). Não cabe a mim dizer como o mercado tem se mostrado financeiramente. Eu acho que é obvio pra todo mundo que as coisas não são como foram outrora. Não tem como dizer isso pra você, que as coisas estão ótimas como já foram nos anos 80, 90 e 2000. As coisas com certeza não são as mesmas, mas que não são as mesmas pra tudo no mundo. As coisas não são as mesmas do ponto de vista financeiro, do ponto de vista social e até se, você quiser, esportista...

Nem o futebol brasileiro é o que foi em outrora, então eu não posso virar pra você e dizer que a culpa é desse cara ou daquele, eu só posso te disser que as coisas simplesmente mudaram. Alguns anos atrás, eu fui uma das pessoas que mais criticaram o estilo, de ser fã dos brasileiros e até dos gringos, mas só que muito mais voltado aos brasileiros por conta de conversas e pela minha própria amizade com os meus colegas de banda, até do próprio Fernando, que me ensinou muita coisa.

RtM: Pois é, são ciclos, alguns estilos se destacam, depois ficam em segundo plano, uns voltam a ficar mais em voga...alguns outros se transformam...
TB: E as pessoas, na verdade, mesmo que inconscientemente, esperavam mudanças dos músicos pra agradá-las musicalmente. E não adianta dizer que não, porque você vê, de década em década, que as músicas e os estilos vão mudando conforme  o que o público gosta. Não dá pra você virar e fingir que a galera não está comparecendo em show, e que são tudo uns bandos de filho da puta e chupa pau de gringo, que por sinal, eu mesmo disse essa frase bem antes do Edu Falaschi.


E quer saber, eu estava parcialmente errado! Nós brasileiros fazemos o papel de uma população colonial e vimos os gringos chegarem aqui desde o começo pagando de gatinho, botando a gente pra trabalhar e achando isso muito bonito. Vide à corrupção que a gente vive até hoje, vindoura lá de Portugal. Na questão musical isso acontece também. Os gringos ainda são melhores do que nós aos olhos dos próprios brasileiros, mas isso não quer dizer que a gente não tenha que nos fortificar e nos obrigarmos a buscar novos caminhos e novos jeitos de fazer música, e acabamos chegando à essa conclusão, e fizemos isso com a Noturnall.


RtM: Um novo caminho, novas possibilidades...
TB: E quer saber, isso deu certo e a pessoas abraçaram a ideia, porque tudo o que elas queriam era uma coisa moderna. Acho que moderna é uma palavra meio babaca, porque tudo que é moderno passa. E era uma coisa que agradasse que ainda não tinha agradado e acontecido, que é uma espécie de atualização do estilo.  Eu acho que a Noturnall veio pra atualizar um estilo que estava defasado, mas isso não quer dizer que os dinossauros do meio estão enganados, como o próprio Angra e o Dr. Sin, ou até os mais pesados, como Sepultura, Krisiun e o Korzus. Essas são bandas que vão sempre abrir caminhos e mostrar que o Brasil não é feito só de pagode, samba e futebol, mas sim de Heavy Metal de qualidade.

RtM: Resistência a coisas novas acaba sendo algo normal no ser humano, e às vezes, nem todos aceitam certas mudanças.
TB: Mas é importante que as pessoas entendam que existem coisas novas de muita qualidade vindas por ai junto com que já existe de bom no mercado, que é isso que eu tenho orgulho de fazer hoje em dia. Eu já fiz parte de alguém que trouxe mudança no passado, que foi o Karma, quando eu já trazia algumas partes de Rap com Thrash. Depois eu fiz parte de um movimento de caminhar com uma bandeira de uma banda que já era grande, mas que tivemos que atualizar o som dela e fazer coisas que a gente não tinha conseguido fazer, que foi o caso do Shaman, de ter feito, por exemplo, um DVD feito com orquestra em Praga, coisa que nenhuma banda fez até hoje, que é gravar um DVD num festival gringo e com uma orquestra gringa.

E disso eu tenho muito orgulho, que inclusive eu vou falar por um bom tempo. E mesmo que alguém faça, eu vou dizer que fomos os primeiros. E foi com qualidade, com o coração e não por grana.
E mais uma vez, como terceiro passo, de você atualizar um som que estava querendo atualização, então você acaba se encontrando numa situação de ser o portador dessa bandeira, dessa tocha e de fazer com que essa coisa aconteça de uma forma diferente. E quer saber, as pessoas foram atrás!

RtM: Não estava acontecendo antes, e com o Noturnall, seguindo “a voz do coração”, como você disse, as coisas começaram a acontecer?
TB: A Noturnall é a banda que mais vendeu disco este ano e a banda que mais fez shows este ano. Fizemos um CD e DVD, cinco vídeo clips, uma turnê privilegiada e vamos terminar o ano com uma turnê Europeia. Isso com uma banda de apenas um ano de idade. Isso pra mim é muito mais que uma vitória, isso é uma satisfação e um prazer que não tem tamanho. E, claro, as pessoas querem que eu diga: “Ah, é um cala boca pra quem te criticou no passado?”

Entenda como você quiser, porque isso não é o que me move, o que me move é ser feliz. E se a felicidade incomoda os outros já não faz parte da minha pessoa ficar dizendo se isso é certo ou errado, eu só sei que estou feliz, meus companheiros estão felizes.

E é uma banda que eu consigo dividir felicidade, fazer dinheiro disso e uma vida pra minha família. Estou totalmente completo musicalmente nesse momento.


Continua na Parte II, que será publicada nos próximos dias, onde você poderá ler o restante desse longo papo com Thiago, onde ele comenta sobre diversos detalhes deste álbum de estreia do Noturnall, a parceria com Russel Allen, um pouco ais a respeito de cada um dos integrantes e também como surgiu o convite para Aquiles assumir as baquetas, as gravações dos vídeos oficiais, a produção do DVD e muito mais!

Olha aí o que vem pela frente:

A entrada de Aquiles Priester:
"O Aquiles foi o casamento perfeito de uma turma que já tinha uma boa singularidade mesclada, que se juntou a um cara que, a meu ver, sempre foi um grande gênio da bateria do Heavy Metal mundial."
  
A rápida ascenção do Noturnall e grande aceitação do público:
"É aquela história do ovo e a galinha, de saber quem vem primeiro. Não da pra saber que a gente quis mais isso do que os nossos fãs queriam que isso existisse. Só sei que o rio encontrou o mar e o fluxo aconteceu."

"O disco da Noturnall foi o disco que mais vendeu na loja (Die Hard) em um dia, de todos os títulos, e houve uma fila pra pegar o disco, que é uma coisa parecida com o “Black Album”, visto no documentário “A Year and a Half in the Life of Metallica”, cenas que só aconteciam nos anos 90 e nos primórdios."

 A Parceria Com Russel Allen:
"E ele realmente foi um cara do bem e estendeu a mão pra gente, pois ele é um cara maior, não só de estatura, mas sim de um dos nomes mais importantes do Heavy Metal do mundo. Ele estendeu a mão pra gente e falou: "Vocês merecem toda a força do mundo e eu vou ajudar para o que precisar"

É isso pessoal, um gostinho do que ainda ficou para a sequência desta entrevista mais que especial, com um cara que sempre buscou dar passos à frente, inovar, e, apesar de causar algumas polêmicas, não agrandando todo mundo (lógico, ninguém é capaz de agradar a todo mundo),  um ser humano com seus erros e seus acertos, mas nunca deixando de ser uma cara que tenta e que faz acontecer.


Entrevista: Gabriel Arruda e Carlos Garcia
Transcrição: Gabriel Arruda
Edição/Revisão: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação/Arquivo da Banda








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