terça-feira, 19 de abril de 2016

Uganga: Mantendo a Engrenagem em Movimento



Com mais de 20 anos de carreira dentro da música, os mineiros do Uganga possuem uma certeza: tem valido a pena! pois estão aí, há mais de duas décadas depois do início da banda fazendo música e o principal, ainda curtindo tudo o que envolve o processo. Prova disso é o álbum "Opressor", lançado em 2014 e festejado como o melhor trabalho do grupo. 
(Read the English version)


Para falar um pouco dessa marca de duas décadas no Metal, das tours e intercâmbios na Europa, do álbum "Opressor", além de outros assuntos, conversamos com Manu "Joker" Henriques e Marco Henriques, e o resultado vocês conferem abaixo:

RtM: Passados mais de 20 anos de carreira, fazendo um balanço desse tempo, vocês acreditam que a banda alcançou a maioria dos seus objetivos, dentro da expectativa de quando vocês iniciaram o seu trabalho? O que a banda almeja para o futuro?
Manu “Joker” Henriques: Falando por mim, creio que estarmos aqui, mais de 20 anos depois do início da banda, fazendo música e curtindo isso, é prova que tem valido a pena. Ver várias pessoas citando o Uganga como algo relevante na cena nacional nos deixa muito felizes, mas não nos acomoda. Se já alcançamos todos nossos objetivos? Com certeza não, mas estamos motivados a seguir nessa caminhada, pois ela tem se mostrado muito válida. Lançamos quatro álbuns de estúdio, um ao vivo gravado na Alemanha, passamos por várias regiões do Brasil assim como rodamos muitos quilômetros em solo Europeu nas duas tours que realizamos por lá. Fizemos inúmeros amigos, tocamos ao lado de ídolos que nos motivaram a ter uma banda e temos recebido uma resposta forte tanto do público quanto da crítica. Isso tudo não tem preço cara! Enquanto essa energia nos levar adiante, continuaremos dando nosso melhor e fazendo o que mais gostamos que é tocar rock pesado.
Marco Henriques: Como o Manu falou, são mais de 20 anos tocando som próprio. Só isso já um super motivo de orgulho e realização, mas sempre estamos querendo mais, buscando evoluir e crescer mais com a banda. Com certeza já conquistamos vários objetivos que tínhamos com o Uganga, mas esse processo sempre está se renovando, sempre estamos buscando evoluir dentro da nossa música, e isso é muito importante pra que a engrenagem continue em movimento.


RtM: O Uganga é uma banda que buscou e busca divulgar de várias maneiras seu trabalho, inclusive tendo duas tours pela Europa. Gostaria que vocês nos contassem um pouco a respeito dessas duas passagens pelo velho mundo, os frutos e resultados colhidos, e também uma comparação com as condições que lá encontraram, com a realidade das bandas aqui no Brasil.
Manu: Fomos na primeira vez em 2010 e rodamos 13.000 km. Foi uma tour de muito trabalho e aprendizado, mas com um resultado totalmente satisfatório, gravamos nosso álbum ao vivo na Alemanha, lançamos o “Vol.03...” na Europa pela Metal Soldiers de Portugal e criamos uma base de fãs que vem se fortalecendo desde então. Em 2013 voltamos para promover o álbum ao vivo, dessa vez numa tour conjunta com nossos irmãos do Terrordome (Polônia) e os resultados foram ainda melhores, apesar de termos rodado menos, 6.000 km. Com essa segunda tour fechamos parceria com a Defense Records da Polônia que vai lançar o “Opressor” lá esse ano e creio que em 2017 façamos nosso terceiro giro por lá pra divulgar não só esse lançamento como o próximo, que até lá já estará finalizado.

 
"Sempre estamos buscando evoluir dentro da nossa música, e isso é muito importante pra que a engrenagem continue em movimento."

RtM: Vocês também lançaram um álbum ao vivo, "Eurocaos Ao Vivo" (Sapólio Radio), conte-nos como surgiu a oportunidade e como foi o planejamento para esse álbum. E ter gravações de diversos shows foi algo planejado no início, ao invés de captar e concentrar a produção em apenas um dos shows?
Marco: Na verdade, tirando o medley de Sarcófago e Sepultura (que foi gravado em Portugal) e as faixas bônus, o show foi todo gravado no mesmo dia, na Alemanha, no Festival Razorblade. A oportunidade surgiu através do nosso manager, Eliton Tomasi, que já conhecia o pessoal da organização do evento e conseguiu combinar com um técnico local de fazer a captação.  Esse show aconteceu em nossa primeira tour na Europa, em 2010. Dos 18 shows que fizemos, com certeza esse foi o mais legal e a captação ficou excelente, a banda estava com sangue nos olhos e fez um show foda. Então, tudo conspirou a favor de lançarmos esse material. O resultado mostrou bem como a banda estava ao vivo na época. Acabou sendo um lançamento que trouxe um retorno até maior que esperávamos, e preparou bem o terreno para que viéssemos com o novo disco “Opressor”.


RtM: Um dos frutos dos intercâmbios na Europa foram os shows com o Terrordome (Polônia), fale pra gente um pouco mas dessa parceria, inclusive dos shows que os poloneses fizeram com vocês no Brasil recentemente. Vem mais frutos dessa parceria pela frente?
Marco: Durante o planejamento da nossa segunda turnê europeia rolou esse contato com o Terrordome, houve uma interação legal e decidimos fazer a tour juntos. E felizmente todos se deram muito bem. Os caras viraram grandes amigos, pessoas que mantemos contato semanalmente até hoje, e o fato de eles terem levado todo o backline fez toda a diferença. Chegar em todos os shows sabendo exatamente como seria a bateria foi um sonho (risos). A tour em geral foi foda, sem nenhum problema, tudo correu muito bem e desde então tínhamos esse plano de eles virem pro Brasil. E no começo do ano os caras vieram. Foi demais poder retribuir a hospitalidade que tivemos por lá.
Os caras (do Terrordome) se divertiram demais aqui, fizeram vários shows legais, foram na cachoeira, se apaixonaram pelas brasileiras, foram assaltados (risos). Ou seja, voltaram pra casa cheios de histórias. E com certeza vem mais coisas por aí dessa parceria.


RtM: Vocês também tiveram a oportunidade de tocar com o Exodus aqui no Brasil, sei que vocês também são fãs. Fale um pouco sobre esses shows e essa oportunidade.
Manu: Na verdade foi um único show em Curitiba no Music Hall e foi muito foda! Como você mesmo disse, o Exodus é referência pra todos na banda e ter a chance de tocar no mesmo evento que eles foi algo único em nossa trajetória, mais um marco a ser celebrado. Tivemos todas as condições de fazer um show legal, tocamos por 40 minutos e a recepção do público foi excelente, mais do que esperávamos devo confessar, pois era nossa primeira vez na cidade e no sul do país como um todo.

Muitas pessoas aqui no Brasil não valorizam as bandas de abertura e ficam na porta fazendo hora até a atração principal, mas o público de Curitiba mostrou que está fora dessa atitude blasé ridícula. Antes de pisarmos no palco a casa já estava lotada com a galera colada na grade! Pessoas cantando trechos das músicas, com camisas da banda e nos procurando depois pra trocar uma ideia e comprar material, isso com certeza nos faz querer voltar a capital do Paraná o quanto antes! E sobre o Exodus, os caras e toda equipe foram muito legais com a gente, o Zetro até assistiu parte do nosso show do lado do palco! Tivemos a oportunidade de conversar com eles depois do show e comprovar que são antes de tudo pessoas humildes e pé no chão, muito mais que muitos babacas que nem saíram da garagem direito e já “se acham” (risos).



RtM: O mais recente álbum da banda, "Opressor" (2014), recebeu menções e elogios em diversos veículos especializados, figurando em várias listas de melhores daquele ano também. Analisando o disco agora passado um tempo da composição, lançamento e resultados até agora, você acredita que seria o melhor e talvez mais maduro álbum do Uganga? Qual a importância dele na história da banda?
Marco: Definitivamente, em minha opinião, é o melhor e mais maduro álbum da banda. Acho que no “Vol. 3: Caos Carma Conceito” nós conseguimos firmar a nossa sonoridade, criar a identidade própria do Uganga.  Já no “Opressor” essa sonoridade foi lapidada e consolidada. Acho que a banda em geral alcançou seu ponto alto nesse álbum, e os integrantes, individualmente, também mostraram uma evolução musical muito grande.
Manu: Não tenho dúvidas que “Opressor” é o melhor trabalho do Uganga, ao menos até aqui. Ele nos levou alguns degraus acima e agora estamos trabalhando pesado para superá-lo no próximo lançamento.


RtM: Continuando sobre "Opressor", gostaria que você comentasse a respeito do tema da música, e também o porque da escolha dela para faixa título?
Manu: Acho que essa faixa sintetiza muito bem a temática do álbum que engloba várias questões referentes ao mundo atual, tanto positivas como negativas. A ideia do Opressor é uma entidade criada pelas falhas, pelos erros que nós seres humanos estamos cometendo há séculos com nosso planeta e com nós mesmos. Um totem erguido em função dos nossos vacilos, em função da maneira como tratamos o mundo. Ego, ódio, guerras, inveja, vícios, religiões, mentiras, está tudo lá formando essa figura simbólica inspirada na divindade hindu Kali, a deusa da destruição.
Adaptamos essa ideia, junto ao Betinho que fez a arte, pros dias atuais e pra nossa visão de mundo.

Escolhi o nome do álbum antes de escrever a letra, passei a ideia pros caras e todos gostaram. Não é um trabalho conceitual, mas as letras se amarram de alguma maneira ao tema da faixa título.


" O álbum 'Opressor' nos levou alguns degraus acima, e agora estamos trabalhando pesado para superá-lo."
RtM: O Uganga também utiliza muitos elementos brasileiros, e samples nas composições, como incursões a ritmos típicos e letras que abordam temas bem brasileiros, como alguns problemas sociais, por exemplo na "Moleque de Pedra" e umbanda em "Aos pés da Grande Árvore". Gostaria que você falasse um pouco a respeito desses elementos que compõem a personalidade da sonoridade do Uganga.
Manu: Sobre elementos e ritmos típicos brasileiros, acho que vem mais nos samples e interlúdios do que nas composições propriamente ditas, já que trabalhamos com o básico: voz, guitarras, baixo e bateria. Somos antes de tudo uma banda que funde heavy metal e hardcore/punk à nossa maneira, mas temos sim alguns elementos fora desse universo que usamos aqui e ali em algumas composições, não somente coisas da música brasileira. O dub jamaicano, por exemplo, sempre foi outra influência diluída em nossa música, assim como batidas vindas da África e algo do rap oldschool nos vocais. No final esses pequenos detalhes acabam sendo mais um diferencial em nossa personalidade, assim como letras que fogem dos padrões do metal, como as que você citou.


RtM: E já que falei dessas duas músicas, que estão entre minha preferias do álbum, gostaria que você também comentasse um pouco mais sobre o conteúdo lírico dessas duas músicas em especial.
Manu: “Moleque de Pedra” foi uma letra que escrevi com meu grande amigo Tito, baixista da banda Seu Juvenal, e fala da molecada na rua doida de pedra. As pessoas ficam falando dos zumbis do cinema e se esquecem que infelizmente temos os nossos vagando pelas ruas do Brasil há bastante tempo. O crack é uma epidemia fora de controle e para a maioria das pessoas parece ser algo distante. Isso é lamentável e mostra o quão egoísta o ser humano pode se tornar. Crianças vivendo como lixo nas ruas do Brasil e os políticos filhos da puta fazendo vistas grossas ou optando por “soluções” eleitoreiras. Isso me enoja! “Aos Pés Da Grande Árvore” é uma homenagem ao meu Orixá, Omulú, e a todos os guias que nos ajudam e ensinam, encarnados ou não. Tenho muito respeito por várias correntes espirituais distintas e a umbanda com certeza é uma delas.


RtM: E como foi o processo de composição, produção e gravação de "Opressor"? Vejo que vocês se cobraram bastante nesse álbum, buscando inclusive uma produção excelente em termos de sonoridade. Como foi a escolha do produtor Gustavo Vazques e a contribuição dele para o resultado final?
Manu: Nós ficamos dois anos envolvidos com a pré-produção e composição do álbum para chegar no estúdio com - se não tudo - quase tudo pronto. Antes a gente deixava muita coisa pra definir no estúdio e isso gerava mais debates que efetividade. Desde o “Vol. 03...” estamos focando mais na composição e na pré e os resultados falam por si, a banda, a meu ver, se encontrou dessa maneira. O Gustavo teve um papel muito importante na captação do material assim como em tirar a melhor performance de cada um dos integrantes. O cara é um mestre nisso! A parte de produção propriamente dita ficou nas mãos da banda mesmo e essa função fica mais comigo e com o Ras (baixo). Somos seis pessoas, todos compõem, mas agora temos um processo mais organizado e produtivo para equacionar todas as ideias. Posso dizer que chegamos no Rocklab (estúdio onde “Opressor” foi gravado) com 90% do material definido. Estamos na pré do novo álbum e vamos repetir esse processo.



RtM: Os resultados e elogios alcançados com "Opressor", conforme vocês afirmaram, então põem uma certa pressão para compor o próximo álbum?
Marco: Acho que a pressão interna é sempre maior. Claro que você sempre quer agradar as pessoas que curtem a banda, mas o mais importante é que a banda esteja satisfeita com o resultado. E que acredite que conseguiu crescer e evoluir mais em relação ao trabalho anterior, até porque não faz sentido lançar algo pior do que o que foi feito anteriormente. Já temos algumas composições novas e pelo rumo que as coisas estão tomando acho que vamos conseguir alcançar esse objetivo.
Manu: Com certeza queremos sempre nos superar. O Uganga faz e sempre fez o que acha certo independente de críticas ou elogios externos, mas dentro dessa ótica trabalharemos duro pra ir além de onde estamos.


RtM: E como você vê o papel e importância do Uganga dentro do cenário mineiro, que revelou tantos nomes cultuados aqui e lá fora, como Sarcófago, Overdose, Sepultura, Witchhammer, Chakal e outros? O fato de vocês serem conterrâneos do Sepultura, por exemplo, despertou alguma curiosidade do público lá na Europa?
Manu: Sempre desperta, o metal nacional é muito respeitado no velho mundo graças a essa safra embrionária maravilhosa dos anos 80. Sendo filho dessa cena vejo que estamos dando continuidade a algo que nos orgulha muito. Quando as bandas que você citou começaram, elas buscavam pelo seu som próprio, algo que veio a influenciar inúmeros grupos pelo mundo. Não se tratava de copiar determinados grupos do passado. Uma coisa é ser influenciado, outra é tentar repetir o que já foi feito. No nosso caso é a mesma coisa, não queremos ser cópia de nenhuma delas, apesar de sermos influenciados por várias e sermos amigos de outras tantas. Será que precisamos de mais clones do Sarcófago ou Sepultura por aí? Creio que não.


"Uma coisa é ser influenciado, outra é tentar repetir o que já foi feito."


RtM: E sobre a cena Metal, você acha que é uma utopia desejar viver de Metal aqui no Brasil, ou é possível? Alguns poucos conseguiram, mas a realidade pode mudar e com muito trabalho, e talvez focando em alguns mercados, uma banda aqui pode se auto-financiar e sobreviver do seu trabalho?
Marco: Acho que viver de música em geral é bem difícil. Não acho que é uma utopia, mas também não é algo que eu pessoalmente tenha como meta. É muito comum ver bandas que tem um nome forte, turnês pelo país, tocam nos maiores festivais, e ainda assim os integrantes têm outros empregos, que normalmente são a principal fonte de renda. O Uganga chegou num ponto que consegue se manter. Uma banda tem gastos, e não são poucos. Produção de merchandise, ensaios, divulgação, assessoria de imprensa, equipamento... E felizmente temos conseguido empatar essa conta, através de shows e venda de merchandise. Mas, sinceramente, o que eu quero é tocar bastante, levar o som do Uganga para o máximo de lugares possível e conseguir manter essa engrenagem rodando. Se pra isso tenho que continuar trabalhando no meu bar, ou com minha marca Incêndio, ótimo. O que não quero é parar de tocar.
Manu: Todos temos nossos trabalhos fora da banda, mas ao mesmo tempo , se existe um caminho para poder sobreviver de música, queremos buscá-lo da maneira certa. Assim como nesses trabalhos paralelos, não estamos na música pra brincar.


RtM: Pessoal, obrigado mesmo! Fica o espaço final para vocês enviarem seu recado, mensagem aos fãs, etc.
Marco: Valeu pelo espaço! Agradecemos de coração a oportunidade.

Manu: Logo sai o Opressor em vinil aqui no Brasil pelo selo Sapólio Radio, e na Europa em cd pela Defense Records. Um pouco mais a frente tem o novo trabalho e enquanto isso nos vemos na estrada. Paz a todos!



 

Entrevista: Carlos Garcia

Fotos: Divulgação

Assessoria de Imprensa: Som do Darma



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"Ego, ódio, guerras, inveja, vícios, religiões, mentiras, está tudo lá formando essa figura simbólica inspirada na divindade hindu Kali, a deusa da destruição. Adaptamos essa ideia, junto ao Betinho que fez a arte, pros dias atuais e pra nossa visão de mundo."

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