segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Entrevista: Primator - Heavy Metal Clássico e o Caos dos Dias Atuais



O Primator é mais uma ótima revelação do Metal nacional, que vinha já galgando degraus de forma rápida, lapidando seu Heavy Metal poderoso, mostrando já seu potencial com o EP "Primator" (2012), e já em 2013 iniciou as gravações do seu primeiro Full-Lenght, "Involution", que foi lançado no ano passado, mostrando uma banda ainda mais madura e coesa, com um Metal clássico, que remete aos ícones do estilo, com grandes riffs, guitarras dobradas, cozinha esmagadora, vocais altos, soando atual e poderoso.

Para falar dos bons resultados e repercussão do seu debut, além de falar um pouco mais sobre as composições, o trabalho de divulgação que segue, os próximos passos, inclusive já apresentando recentemente uma nova música que já foi composta para o próximo álbum, conversamos com o vocalista Rodrigo Sinopoli, e o resultado você confere a seguir:


RtM: Olá pessoal! Obrigado pela oportunidade de conversarmos um pouco sobre seu trabalho.
Rodrigo Sinopoli: Olá Carlos! Quem vos concede a entrevista é o Rodrigo Sinopoli e sou muito grato pela oportunidade e abertura de espaço.

RtM: Bom, gostaria que nos contassem a respeito de como foi esse trabalho de maturação da banda e das composições, que iniciou lá com o EP “Primator”, e culminou nesse full-lenght, o “Involution”, que mostra, não tendo nada a ver com o título do álbum, uma bela evolução da banda. Que fatores, além da experiência de estrada, claro, você acredita que contribuíram para esse processo, e a qualidade vista no álbum?
Rodrigo Sinopoli: Foi algo natural e continua em constante evolução.No caso do álbum, não foi muito difícil contextualizar as faixas que já existiam com as novas, pois todas abordam o mesmo tema, que de tão amplo que é, nos possibilitou linkar a incapacidade do homem em aceitar suas falhas e defeitos com o caos que vivemos hoje. A base para a composição do Involution veio do próprio cotidiano e situações que vivenciamos todos os dias.

"Não seria interessante falarmos sobre como a humanidade está realmente evoluída tecnologicamente ou avançada em termos científicos, mas o que foi degradado para que chegássemos a tal estágio."
RtM: Gostaria que você contasse um pouco mais do conceito de “Involution”, que trata dessa questão do homem estar pagando pelos seus erros, que a “evolução” parece ter nos tornado mais primitivos em vários aspectos.
Rodrigo: É justamente isso! Toda a matéria prima do Involution saiu do que observamos no mundo atual. O que tentamos mostrar, é como esta imagem famosa da escala evolutiva de Darwin pode ser interpretada de formas diferentes. Não seria interessante falarmos sobre como a humanidade está realmente evoluída tecnologicamente ou avançada em termos científicos, mas o que foi degradado para que chegássemos a tal estágio. Tudo aquilo de destrutivo que ficou pelo caminho e nos condicionamos a ignorar.

RtM: As letras todas possuem uma ligação? Pode ser considerado um álbum conceitual tradicional?
Rodrigo: Elas não possuem ligação direta entre si, mas se encaixam no contexto do álbum, que pode sim ser considerado conceitual, porém não da maneira tradicional como algumas bandas, principalmente de metal progressivo, costumam fazer.

RtM: A faixa de abertura, “Primator”, que também dá nome à banda, e foi título do EP, foi a fagulha inicial do conceito que você abordou no álbum?
Rodrigo: Talvez seja a mais “primitiva” do álbum. Foi a primeira a ser escrita e composta. Acredito sim, ter sido o ponta pé inicial para fecharmos o tema abordado.


RtM: “Let me Live Again” é uma “balada pesada”, e que me lembrou bastante os trabalhos solo de Bruce Dickinson, especialmente os vocais.  E “Erase the Rainbow” eu acredito que traz bem fortes as influências de Judas Priest, além dos riffs excelentes, também tem uma letra muito forte. “Release the anger, this is the way for you and me”. Comente pra gente um pouco mais dessas duas músicas.
Rodrigo: A "Let me live Again" foi escrita há muito tempo, fruto de um fim de relacionamento que me trouxe muito sofrimento e tudo o que eu queria naquele momento, era justamente conseguir viver a minha vida novamente. No ano passado, com o falecimento do meu pai, me dei conta de como ela também funciona em outros casos de perda. Hoje, quando a interpreto nos shows, sequer me lembro da ex, mas não tiro o amor e a saudade pelo meu velho da cabeça. Isso é muito doido! Mesmo assim, eu e o Linhares escrevemos juntos uma canção onde homenageio diretamente minha figura paterna e que estará presente no próximo trabalho da banda. Quanto à "Erase the Rainbow", posso dizer que é uma manifestação contra a poluição visual e a sujeira que nos condicionamos a ignorar com o passar do tempo e em como é bizarro vivermos num mundo onde, por mais que tentemos tornar colorido e alegre, é cinza e caótico.
Gosto muito desta música também!

“Praying for Nothing” é outra que se destaca a meu ver, gosto muito do peso e atmosfera dela, com conteúdo lírico bem forte também, que traz um sentimento de abandono e pessimismo. Gostaria que comentasse mais sobre ela. E acredito ser bem atual mesmo, pois as pessoas andam muito incrédulas, vendo um mundo cheio de incertezas, ameaças como violência e pobreza crescente, injustiças, etc.
Rodrigo: Pois é! Ela trata da indiferença da crença e em quão justo este Deus pode ser, quando ajuda alguém a trocar de carro, por exemplo, mas ignora uma criança passando fome sob um viaduto qualquer. Não existe uma forma sútil pra falar sobre isso, então precisávamos de um clima pesado e hostil, de algo que realmente nos é incômodo.

E sobre a “To Mars”, que é também seu mais recente vídeo oficial,  música que não está no álbum, resultado de parceria com o Mário Linhares (Dark Avenger)? Conte pra gente mais sobre essa parceria com o Mário? Renderá mais frutos? Inclusive ele foi seu vocal coach, não é?
Rodrigo: A "To Mars" nada mais é do que uma faixa do nosso próximo álbum, que será integralmente produzido pelo Mario, que também é meu coach para este trabalho.
A diferença é que ela é de fato uma música feita para o Dark Avenger, mas que não se encaixava no tema do novo disco deles. Foi um presente do Linhares para o Primator, que recebemos com muita satisfação. Ele é um cara fantástico, que conhece Heavy Metal como poucos e é um enorme prazer poder contar com a parceria dele.


Parceria com Mário Linhares (Dark Avenger) já rendeu frutos
RtM: Em termos de Brasil, como você vê os frutos colhidos até agora, e os planos para ampliar os horizontes da banda, aqui e lá fora?
Rodrigo: No início do ano tivemos uma oportunidade para tocar no exterior, porém não conseguimos sincronizar nossas férias e acabamos desistindo da ideia naquele momento.
Acredito que retomaremos este caminho, que é hoje um dos nossos focos, assim que o próximo álbum for lançado. Hoje, no Brasil, o público dá muito mais valor quando a banda se “internacionaliza” e é sobre esta ideia que estamos trabalhando. Acredito que uma turnê fora do país nos traria muito mais respaldo aqui dentro também, onde, por enquanto, lidamos com fãs que pagam R$700 para assistir ao show de uma banda gringa que vem todo ano, mas não gasta R$20 num CD nacional.

RtM: O Primator é uma banda que, a meu ver, representa bem o Heavy Metal Clássico com roupagem atual. O que você me diz a respeito? E sobre essa questão de haver tantos rótulos e sub-estilos hoje em dia, ajuda ou atrapalha?
Rodrigo: Tocamos o que nos agrada escutar, que é de fato o Metal Tradicional Clássico. Aquele que, na verdade, não precisaria de rótulo, pois foi o que deu origem a todas as outras vertentes. Não gosto desse excesso de sub-gêneros e isso só nos traz mais desunião à cena. Atrapalha para casar shows e misturar públicos. Acredito que Metal é Metal!

RtM: E o lançamento da mídia física? Você vê o fã de Metal ainda como um consumidor fiel dos produtos, ou tem um receio quanto ao futuro e quanto a investir em produtos como CD, DVD, etc?
Rodrigo: CD e DVD é o mínimo que uma banda precisa ter para ser levada a sério, principalmente as novas. Ninguém quer escrever uma resenha de um CD-R. Então até nisso caímos nas garras do mercado. Precisamos gravar da forma que ele julga correto e torcer para o público receber bem e comprar o material. Mas é notório que o consumo de mídia física caiu com tanta opção digital. O que nos resta é tentar produzir algo que valorize o CD e o DVD e isto, definitivamente, está em nossas metas.

"As bandas mais velhas continuam sendo reconhecidas pelos trabalhos antigos e, de uma forma geral, não tiveram uma aceitação tão boa em seus álbuns mais recentes"
RtM: Justamente, tentar agregar maior valor ao produto. Vejo as bandas, principalmente lá fora, investindo em produtos diferenciados, como boxes, digipacks, earbooks, edições com bônus e coisas extras, como produtos personalizados. Claro que nossa realidade é diferente, mas talvez o fã opte por comprar o produto de fora por oferecer esses diferenciais. Pode ser uma saída.
Rodrigo: Sim, com certeza!

RtM: O envelhecimento das bandas pioneiras, e essa facilidade que temos hoje para difundir a informação, é algo que está dando espaço para mais bandas ocuparem um lugar de destaque, mesmo tendo uma divisão maior do público? Pois muitas bandas têm um grande destaque em alguns países, fazendo grandes shows, e em outros lugares, não há demanda ou tocam em lugares menores.
Rodrigo: As bandas mais velhas continuam sendo reconhecidas pelos trabalhos antigos e, de uma forma geral, não tiveram uma aceitação tão boa em seus álbuns mais recentes. Acredito que exista sim espaço, mas está sendo mal ocupado, pois o rádio, que é ainda hoje um meio de formação de opinião, toca as mesmas músicas sempre. Deixando o Heavy Metal fadado a pequenas aparições em programas e horários específicos.

RtM: Diante desse cenário atual, como você vê o futuro de novos nomes como o Primator, e o que você vê como necessário para buscar um destaque, e assim uma longevidade?
Rodrigo: Vejo o Primator tocando metal de qualidade, pesado, direto e que acima de tudo nos agrade. O que acontecer no futuro, dependerá exclusivamente de como seremos vistos pelo público e tendo isso em mente, nos resta apenas trabalhar e continuar produzindo coisas novas.

RtM: Obrigado pela entrevista e por nos contar um pouco mais do seu trabalho e também sua opinião sobre esses assuntos muito em comum dentro do cenário musical. Fica o espaço também para sua mensagem final. Abraço.
Rodrigo: Muito obrigado pela oportunidade e pelo teor das perguntas. Foi um prazer!
Quero agradecer também ao nosso público fiel, que nos acompanha pelas mídias sociais e nos shows. Vocês são incríveis e não perdem por esperar o que vem por aí. Grande abraço a todos!



Entrevista: Carlos Garcia
Fotos: Divulgação
Assessoria de Imprensa: Som do Darma


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