sábado, 15 de abril de 2017

Entrevista - Jenny Haan (Babe Ruth): Um Espírito Livre Para Sempre




O Babe Ruth surgiu em 1971, em Hatfield (Inglaterra), fundada pelo guitarrista Alan Shacklock, o grupo criou um estilo cheio de personalidade, fazendo um Rock Progressivo e Hard Rock liderado pela guitarra, trazendo nuances de música clássica, latina, blues, percussões e arranjos com instrumentos como violoncelos e metais, além de influências das trilhas sonoras de Morricone. A cereja do bolo dessa receita foi a jovem vocalista Janita "Jenny" Haan (também natural da Inglaterra, mas que passou um período nos EUA), com seus vocais poderosos, às vezes trazendo uma certa crueza, e cheios de garra e feeling, além da voz e de uma performance elétrica de palco, com os pés descalços e movimentos acrobáticos, Jenny chamava atenção também pela beleza, estilo atlético e carisma. (English Version)

O Babe Ruth, com Jenny nos vocais, lançou 4 discos nos anos 70 (o quinto, a banda já havia sofrido profundas alterações de line-up), sendo a estreia, "First Base" (1972), tido como um disco clássico e cult, sendo adorado principalmente pelos fãs de Progressivo, e trazia faixas como "The Mexican", a música mais aclamada do grupo, "The Runaways", "Wells Fargo" e o cover para "King Kong", de Frank Zappa.

Em 2005 o grupo voltou a se reunir, trazendo cinco membros da formação original, e lançou em 2007 o álbum "Que Pasa". O grupo segue fazendo shows regularmente, como a mini tour no Canadá em 2010, país onde possui até hoje uma base sólida de fãs, e foi aclamada com disco de ouro com "First Base".

Para nos contar um pouco dessa bela história, conversamos com a amável e poderosa Jenny Haan, que falou sobre seus recentes trabalhos, o lançamento de material raro de sua banda Jenny Haan's Lion, planos, o retorno da banda, e essa grande época da música, nos anos 70, onde estavam ainda em início de carreira outras lendas como Led Zeppelin, Sabbath, Pink Floyd e tantos outros. Muitas grandes histórias de uma lenda do Rock!
Carlos Garcia

RtM: Olá Jenny, obrigado por tirar um tempo para falarmos sobre sua carreira, Babe Ruth e outras questões. Tenho certeza que muitos fãs vão gostar de ler, e também muitas pessoas que agora vão conhecer a sua música.

Para começar, diga-nos quando começou seu interesse pela música, e quando você decidiu começar a carreira de cantora?
Jenny: Olá Carlos. Obrigada por me convidar. Foi a minha avó que "descobriu" a minha voz quando eu estava na Califórnia, e insistiu para que eu cantasse para meus pais. No meu último ano de Ensino Médio na Califórnia, eu estava estudando arte, e no meu projeto final, com planos de continuar com  Restauração de Belas Artes na Universidade. Eu me via cantando cada vez mais sozinha, e quando surgiu a oportunidade de voltar para a Inglaterra, minha terra natal ... Eu sabia que era o meu destino.

"Eu me via cantando cada vez mais sozinha, e quando surgiu a oportunidade de voltar para a Inglaterra, minha terra natal ... Eu sabia que era o meu destino."
RtM: Seu primeiro trabalho profissional foi já com o Babe Ruth?
Jenny: Sim, foi. Eu estava respondendo anúncios para participar de audições com algumas bandas. Eu respondi a um anúncio, sobre uma banda que a gravadora EMI estava trabalhando,  chamada Shacklock, e estava à procura de um vocalista. Liguei e David Hewitt atendeu o telefone. Eles vieram me visitar na minha casa em Finchley, acho que foi o Alan que tocou em um violão e eu cantei. Eles estavam testando meu ouvido para ouvir música. Eles então me convidaram para ir para o Auditions no EMI Manchester Square onde eu fiz o teste junto com outros 40 cantores masculinos (eu era a única garota!) E foi entre mim e um cantor de Nova York, que já tinha um álbum lançado no exterior .... e eles decidiram ficar comigo! A piada é que eles estavam muito envergonhados por oferecer um salário muito pequeno (Risos). Começamos ensaiar intensivamente. A EMI,  primeiramente, não estava muito confiante em ver uma cantora à frente da banda. Os rapazes me ajudaram muito, e Nick Mobbs, que contratou o Sex Pistols, veio nos ver e ele adorou o que ele ouviu ... Em poucas semanas, estávamos no Abbey Road Studios gravando o primeiro álbum "First Base!!!"

RtM: Nossa, que deve ter sido incrível pra você! Conte mais um pouco sobre o seu início com Babe Ruth, e o lançamento de "First Base" (72), considerado como o grande clássico da banda pelos fãs.
Jenny: Foi um tempo incrível. Todos os rapazes da banda eram muito protetores, eu tinha apenas 18 anos na época. Eu tinha uma base muito boa de disciplina musical. Alan Shacklock formou-se em música clássica na Royal Academy of Music, David Punshon também treinou de forma clássica e era um pianista de jazz afiado, David Hewitt  tinha um pé no baixo Blues, e Dick Powell mergulhou na bateria progressiva. Funcionou. Eles me treinaram bem na arte da disciplina na preparação. Eu sou eternamente grata a meus irmãos por esta educação

RtM: Seu vocal poderoso, e também performance e aparência (muito bonita e atlética), atraiu muita atenção. E naquela época as mulheres também eram mais raras no cenário Rock, e você merece muito mais reconhecimento pela qualidade, personalidade e pioneirismo.
Jenny: Muito obrigado. Recordando, eu era bem provocante! (Risos). Recém chegada da área de São Francisco uma garota selvagem e um espírito livre ..

"...fiz o teste junto com outros 40 cantores masculinos (eu era a única garota!)...A EMI estava em dúvidas sobre uma garota à frente da banda....Fui a escolhida, e em poucas semanas estávamos gravando no Abbey Road."
RtM: Eu amo o álbum "First Base", e minha música favorita é "The Runaways". Eu gostaria que você nos falasse um pouco sobre essa música. Eu gosto das músicas mais "rock", mas eu adoro ouvir sua voz em músicas mais emocionais, baladas ...
Jenny: Alan escrevia letras que eram sarcásticas ou histórias. Ele adorava os westerns spaghetti, e a música de Morricone (Ennio Morricone, famoso maestro e compositor italiano, responsável por mais de 500 trilhas para TV e cinema) e as músicas "The Mexican" e "Wells Fargo" vieram daí. Músicas como "The Runaways" mostravam o lado mais sensível, e também me deram a oportunidade de aplicar técnicas vocais diferentes, um lado mais suave que eu gosto muito.

RtM: A música que é considerada a mais importante da banda é "The Mexican". Conte-nos um pouco sobre essa música. Ele ainda tem essa história curiosa, para ter influenciado a cultura Hip-Hop e Break Dance, e os filmes de Clint Eastwood também, com a utilização de trechos.
Jenny: Sim está certo. Essa música já passa  de 4 décadas sendo idolatrada pela cultura hip hop. Começou no New York, e as famosas "Loft Party" (festas somente para convidados) criadas por Mancuso (David Mancuso 1944-2016) que tornou-se famoso por iniciar a cultura da música urbana e hip-hop,  tocando músicas como James Brown, Babe Ruth e mixando-as ... A razão porque "The Mexican" tocou seus corações por causa da questão da opressão, e o ritmo dela e bpm eram perfeitos para trabalhar a "Break Dance" sem ter que mudar trilhas. Tornou-se um hino para os BBoys

RtM: É uma pergunta difícil eu acho, mas você poderia nos citar suas cinco canções favoritas da banda?
Jenny: "The Mexican", for obvious reasons
"Black Dog"
"Sun Moon and Stars"
"2000 Sunsets"
"We People who are Darker than Blue"

                     

RtM: Vocês conseguiram uma enorme base de fãs no Canadá, e depois com o retorno das atividades em 2005, vocês foram fazer uma turnê lá novamente. Fale-nos sobre este sucesso lá, e como foi retornar anos mais tarde.
Jenny: Extraordinário que a lealdade do povo canadense ainda está lá, e hoje ainda estamos tocando pra eles. Amaram "First Base",  foi Número 1 por 40 semanas lá. Voltar para tocar para eles novamente foi muito, muito especial e nós trabalhamos muito duro para dar-lhes um grande show .... Adorei cada momento. Entramos durante um fantástico pôr-do-sol sobre as águas ... de tirar o fôlego.

RtM: Você acredita que a banda poderia ter conquistado muito mais? E eu acho que o grupo terminou suas atividades prematuramente na década de 1970.
Jenny: Oh com certeza ...definitivamente. A banda foi duramente atingida quando sofremos um acidente de carro muito ruim entre o primeiro e o segundo álbuns, atingiu a banda completamente. Seguido por um incidente que membros da banda foram agredidos por seguranças em um show em Sunderland. Foi então que David Punshon nos deixou. Nós recrutamos Ed Spevock, que ainda está conosco até hoje, e foi um momento muito vulnerável. "Amar Caballero" foi o resultado ... Há alguns bons trabalhos lá ... Eu colaborei com Alan em algumas das faixas liricamente, o que foi ótimo.
"Eu era bem provocante! (Risos). Recém chegada da área de São Francisco uma garota selvagem e um espírito livre .."
RtM: E sobre o retorno em 2005, com o álbum "Que Pasa" (2007). Conte-nos um pouco sobre o retorno, como você se sentiu sobre trabalhar com o Babe Ruth novamente.
Jenny: Foi um tempo de cura fantástico, e uma reconciliação para todos nós. Nós tínhamos os membros originais novamente, menos Dick Powell (bateria). Aconteceu depois que nós tocamos no Brixton para Hooch e o Campeonato Mundial de Breakdancing .. onde nós executamos "The Mexican" para 4000 Breakdancers, o que foi absolutamente fantástico. Decidimos então compor outro álbum ... e "Que Pasa" foi o resultado. Somos uma família e sempre seremos uma família. Nós temos nossos altos e baixos, mas nós amamos uns aos outros, cuidamos uns dos outros e Babe Ruth ainda está muito vivo.

RtM: E sobre "Que Pasa". Ele traz muitas características clássicas do grupo, incluindo influências da música latina, mas também coisas mais contemporâneas, e fugindo um pouco de tradicional, como um DJ e turntables. Conte-nos um pouco sobre este trabalho.
Jenny: Queríamos voltar às raízes do "First Base", como uma homenagem à cultura BBoy e aos fãs leais que nos apoiaram. Sentimos que precisávamos incluir os elementos intrínsecos no Babe Ruth, incluindo também as Bboy turntables. O filho de Alan, Jessie,  conhecido como Kdsml, ajudou com isso ... foi bom para manter tudo família, por assim dizer. Eu voei para Nashville para gravar os vocais com Al. E David Punshon também, pra colocar seu piano jazz no disco. Foi um tempo mágico e maravilhoso. Eu trabalhei na capa do álbum com um artista muito talentoso do Havaí chamado EAST3 ou Suya3, nós passamos longas horas no computador, ele no Havaí e eu no País de Gales, reunindo as ideias.

"Os músicos estão tendo que encontrar outras maneiras de ganhar o dinheiro para continuar fazendo o que amam ... é de partir o coração."
RtM: Sobre novidades e seus outros trabalhos, além de sua participação no segundo álbum do Hollywood Monsters, eu vi que você postou sobre novas composições, e com a parceria de Stephen Honde. Pela que vejo, uma parceria renderá muito. Teremos em breve um projeto de ambos ou um álbum solo seu?
Jenny: Eu descobri uma gravação antiga com Jenny Haan's Lion e um album que foi gravado nos anos 80. David Morris ajudou a extrair a música para fora dos rolos,  que envolveu aquecer as fitas ligeiramente para recuperá-las. Felizmente eles tinham sido mantidos em um lugar quente. Mas o processo só permitia uma tentativa.... Só tínhamos uma fita para levar gravações de Manchester, o que novamente provou ser interessante. Descobrimos depois de ouvir que som da minha voz que a fita estava correndo rápido. David foi alertado quando ele estava ouvindo as memórias das histórias de seus pais sobre a manutenção da espingarda WW11. David então teve que abrandar as fitas. Foi incomum.

RtM: Nossa, certamente um material que os fãs vão apreciar!
Jenny: O álbum será certamente para pessoas que gostam e acompanham meu trabalho ao longo dos anos. Uma sensação de tecnologia moderna muito 80's. Existe uma música ao vivo da Music Machine em Londres do Jenny Haans Lion. Novamente para colecionadores e fãs. Estou no processo agora de coligir formulando e começando o trabalho da arte, reunir tudo. Steph os masterizou na França. E de novas gravações há uma nova  de "Black Dog", que é um link para Babe Ruth e também o compositor Jesse Winchester, e essa versão Steph e eu gravamos quando eu fui para a França para registrar os vocais para "It's a Lie" and "Capture the Sun", para o segundo álbum de Steph com o Hollywood Monsters. O Babe Ruth ama suas composições. É dark, tem elementos de ambos e uma interpretação completamente diferente. Há um par de novas faixas que Steph Honde e eu trabalhamos. Estou indecisa se as incluo ou guardo para o novo projeto depois disso.

RtM: E como você vê a indústria da música hoje, em comparação com o cenário quando você começou no início dos anos 70? Por um lado, temos a facilidade da Internet para promover e fazer contatos, e por outro lado houve uma redução nas vendas de álbuns físicos.
Jenny: É horrível. Os músicos foram totalmente desvalorizados. As pessoas já não querem pagar por música quando podem obtê-la gratuitamente em downloads. Os músicos estão tendo que encontrar outras maneiras de ganhar o dinheiro para continuar fazendo o que amam ... é de partir o coração


RtM: E quanto aos cantores e bandas de hoje, você não acha que existe uma falta de personalidade hoje em muitos? De bandas mais jovens e cantores, quais chamaram sua atenção e que você acha que realmente tem personalidade e potencial?
Jenny: Há uma enorme mistura de estilos hoje em dia. Existem algumas grandes bandas lá fora e bons cantores. Mas muitos só querem o estrelato, o que é muito triste. Eles não querem pagar suas dívidas ... e agora há necessidade de tocar ao vivo para fazer algum dinheiro, é muito difícil para as bandas começar. Tudo tem um sentimento diferente ....

RtM: Eu me lembro de ter lido uma entrevista que você disse que estavam gravando, e tiveram um problema técnico, pedindo ajuda ao estúdio do lado, e David Gilmour, que estava gravando "Dark Side of the Moon", foi quem ajudou. Você deve ter muitas histórias daquela época, onde muitas das lendas de hoje estavam apenas começando sua história. Conte-nos outra grande história que você se lembra, ou mais.
Jenny: Nós tocamos em Campbeltown e o Wings veio nos ver .... Paul e Linda (McCartney) não foram porque eles não conseguiram uma baby-sitter (Risos) ... após o show, fomos para o local onde o Wings ensaiava,  que era no meio de um campo, e ficamos tocando a noite toda .... Denny Laine (Moody Blues, Wings) costumava sempre nos ver quando tocávamos em Londres ... havia uma grande parceria.

RtM: Nossa! muito legal.
Jenny: Eu conheci John Lennon logo depois que ele e Yoko Ono tinham conseguido voltar juntos...eu não sou de ficar admirada, mas desta vez sim, definitivamente um dos meus grandes momentos.
Quando estávamos tocando em Los Angeles com Iggy Pop, fui convidada para o quarto de Jimmy Page no Hotel, e ficamos todos lá, Jeff Beck, Led Zeppelin, Babe Ruth ... para beber champanhe. Eu me lembro de tocar pra ele uma  música de Bill Nelson, para que ele pudesse ouvir sua guitarra. Whispering Bob Harris estava lá conosco (Old Gray Whistle Test)


RtM: Muitas boas história, muita música! Jenny, muito obrigado pela sua atenção, estamos ansiosos para ouvir novas músicas e por esse material que está sendo preparado! Espero podermos falar sobre isso em breve.
Jenny: Obrigada novamente Carlos ... Olá a todos. Com amor,  jenny xxx
Tudo de bom!

Entrevista: Carlos Garcia


Discografia Babe Ruth
First Base, 1972
Amar Caballero, 1973
Babe Ruth, 1975
Stealin' Home,  1975 
Kid's Stuff, 1976 (Jenny não estava mais na banda neste álbum)
Qué Pasa, 2007


Compilações/EPs
Jenny Haan EP "We Drove'em all Mad/
Greatest Hits, 1977
Grand Slam: The Best of Babe Ruth, 1994

   

   

   

 

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